Jerônimo Teixeira na Crusoé: O xis da questão das redes sociais
Na minha infância, quando uma família perdia pessoas queridas, parentes e amigos que moravam longe mandavam telegramas de condolências, todos breves e secos porque a tarifa era por...
Na minha infância, quando uma família perdia pessoas queridas, parentes e amigos que moravam longe mandavam telegramas de condolências, todos breves e secos porque a tarifa era por letra (e ninguém se deu ao trabalho de escrever quando meu cachorro Trambique foi atropelado). Hoje, pessoas que moram em outro continente escrevem coisas significativas que podemos ler quase imediatamente.
Parece que estou referendando a publicidade kitsch do Facebook, que insiste em que a criatura de Mark Zuckerberg está aí para “conectar” as pessoas. Não: apresento uma exceção — um vislumbre de humanidade soterrado pela cacofonia on-line. As linhas de conexão que nos trazem conforto em horas difíceis representam fios perdidos na vastidão das redes sociais. Minha própria experiência no Facebook não é tão positiva. Já me meti nos mais estúpidos bate-bocas com gente que não conheço e com gente que conheço, mas não respeito. A responsabilidade é minha, claro — mas a dinâmica dessas tretas foi produzida pelas redes.
Os males das redes sociais me parecem mal compreendidos. Tem carradas de exagero e distorção nos relatos sobre o dano que elas causaram às democracias. Um bom exemplo é a lenda de que a Cambridge Analytica, empresa de big data, teria sido decisiva para a vitória do Brexit no Reino Unido, em 2016, e de Donald Trump nos Estados Unidos, no mesmo ano. Com acesso ilegal a dados de 50 milhões de usuários do Facebook, a empresa teria projetado propaganda individualizada — microtargeting, no jargão publicitário — para converter eleitores indecisos. Uma investigação de três anos conduzida pela ICO, agência britânica que fiscaliza a privacidade de informações na internet, concluiu que na verdade a Cambridge Analytica teve efeito nulo nas votações britânicas e americanas. Resta, porém, o fato de que o Facebook entregou ilegalmente dados de seus clientes para a Cambridge Analytica — pelo que foi multado no Reino Unido e nos Estados Unidos.
O histórico político das redes sociais não pode ser…
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