Orlando Tosetto na Crusoé: O ministro malemolente
Descobri que temos um ministro que toca violão. Faz reforma tributária e toca violão, talvez não exatamente...
Descobri que temos um ministro que toca violão. Faz reforma tributária e toca violão, talvez não exatamente nessa ordem. Mas que importa? Mais brasileiro – mais malemolente, mais requebrante, mais viniciusdemoraizento, mais grêmio recreativo escola de samba responsabilidade fiscal com sentimento social – do que isso, só se ele trabalhar de chinelos e sunga, direto da praia, dando aquela bicadinha na caipirinha entre um decreto, uma audiência, um acorde com sétima e nona, bem bossa-nova.
É verdade que o ministro tem seu quê de tímido, e seu talento só apareceu mediante certa pressão da imprensa (que estava, como direi?, cumprindo o seu papel). Mas apareceu sempre. Violão na mão, ante o desafio que lhe foi posto – “mostra pro povo de que matéria és feito, ministro; cala a boca de quem te deslustra o estro, excelência” – ele performou. E bem. Lascou lá seu sambinha da reforma tributária (por ora ainda sem letra) e ganhou da mídia entusiasmada tanto o aplauso merecido quanto o reconhecimento de que, como o time do Botafogo, o ministro vive boa fase.
Agora, é o seguinte: que alívio, para mim pelo menos, é saber que a reforma foi posta nas mãos solidárias de um artista, de – como se dizia antigamente no mundo do samba – um bamba. Porque isto de reformar os impostos tem seu tanto de arte, daí o artista; tem seu tanto de matemática, daí o músico (música é matemática, sabia não?); e tem seu tanto de exigências ao famoso jogo de cintura, daí o bamba. Estamos, pois, nas melhores mãos.
Por outro lado, e antes que o amigo comece a achar que estou pegando no pé do excelentíssimo, a verdade é que…
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