Anatomia de um governo hegemonista de esquerda
Como sabe qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual, não há frente ampla alguma. O governo Lula é o governo de uma frente de esquerda ampliada, aliada a velhos setores fisiológicos da política...
Como sabe qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual, não há frente ampla alguma. O governo Lula é o governo de uma frente de esquerda ampliada, aliada a velhos setores fisiológicos da política brasileira (para fazer maioria no parlamento), que capturou dois desavisados do centro democrático liberal para passar a falsa ideia de que é um governo de frente ampla.
Por que tantos erros dos analistas e jornalistas políticos em anunciar uma frente ampla para governar que nunca seria aceita pelo PT realmente existente? É fácil responder essa. Porque não era análise. Era torcida.
O PT realmente existente – não o PT imaginário dos intelectuais que não fazem a menor ideia do que se trata – é um partido hegemonista (que acha que é necessário fazer maioria em todo lugar para implementar o seu projeto, que acredita que quem tem maioria tem sempre legitimidade e que pensa que democracia é soberania popular). É um partido populista de esquerda e, portanto, não-liberal. Está tão longe de ser um partido social-democrata ou democrata-liberal, como a Bolívia da Finlândia, a Argentina da Nova Zelândia ou o Peru da Suécia.
Vamos à anatomia do novo governo. Na sua composição de primeiro escalão há represetantes de uma frente de esquerda ampliada, de uma frente fisiológica e dois enfeites de “frente ampla”.
I – A FRENTE DE ESQUERDA AMPLIADA – 27 membros (73%)
I.1 – A frente petista dentro da frente de esquerda (o governo de fato) – 10 membros (27%)
Presidência – Lula do PT (não entra na soma)
Fazenda – Fernando Haddad do PT
Casa Civil – Rui Costa do PT
Secretária Geral da Presidência – Márcio Macedo do PT
Desenvolvimento Social – Wellington Dias do PT
Comunicação Social – Paulo Pimenta do PT
Educação – Camillo Santana do PT
Trabalho – Luiz Marinho do PT
Relações Institucionais – Alexandre Padilha do PT
Desenvolvimento Agrário – Paulo Teixeira do PT
Mulheres – Cida Gonçalves do PT
I.2 – Ex-integrantes dos governos petistas de Lula ou Dilma – 6 membros (16%)
Defesa – José Múcio, ex-governo Lula
Relações Exteriores – Mauro Vieira, ex-ministro de Dilma
GSI – Marco Dias, ex-ministro de Lula
Gestão – Esther Dweck, ex governo Dilma
AGU – Jorge Messias (o “Bessias” do governo Dilma)
CGU – Vinícius de Carvalho, ex-governo Dilma
I.3 – Partidos de esquerda satelizados pelo PT – 7 membros (19%)
Justiça e Segurança – Flávio Dino (ex-PCdoB) do PSB
Ciência e Tecnologia – Luciana Santos do PCdo B
Portos e Aeroportos – Marcio França do PSB
Meio Ambiente – Marina Silva da Rede
Previdência – Carlos Lupi do PDT
Povos Indígenas – Sonia Guajajara do PSOL
Igualdade Racial – Anielle Franco, area de influência do PSOL
Nota – O PV e o Cidadania, hoje também são satelizados pelo PT, mas apesar de todo esforço que fizeram para aderir ao governo, ficaram sem ministérios.
I.4 – Área de influência do PT ou da esquerda – 4 membros (11%)
Saúde – Nísia Trindade
Esportes – Ana Moser
Cultura – Margareth Menezes
Direitos Humanos – Silvio Almeida
II – A FRENTE FISIOLÓGICA – 8 membros (22%)
Transportes – Renan Filho, do MDB (filho de Renan Calheiros)
Cidades – Jader Filho, do MDB (filho de Jader Barbalho e irmão de Helder Barbalho)
Minas e Energia – Alexandre Silveira, do PSD
Agricultura – Carlos Fávaro, do PSD
Pesca – André de Paula, do PSD
Comunicações – Juscelino Filho, do União Brasil
Turismo – Daniela do Waguinho, do União Brasil (esposa do Waguinho, prefeito de Belford Roxo, cabo eleitoral de Lula na Baixada)
Integração Regional – Waldez Góes do PDT
III – OS ENFEITES DE “FRENTE AMPLA” – 2 membros (5%)
Indústria e Comércio – Geraldo Alckmin, vice-presidente, ex-PSDB, atualmente no PSB (conta na soma)
Planejamento – Simone Tebet, do MDB
A falsa “frente ampla” – contemplando setores do centro democrático liberal – tem apenas 5% das cadeiras, enquanto que a esquerda ampliada tem 73% e os setores fisiológicos 22%.
A anatomia só não está completa porque não estamos considerando cargos importantíssimos que ficarão com petistas puro-sangue, como o BNDES (Aloizio Mercadante) e a Petrobras (Jean Paul Prates)
É este o artigo.
Agora vamos à festa da posse. Para comemorar tão incrível anatomia, o ditador Nicolás Maduro pode até se fazer presente (pelo que dizem). O proto-ditador Pedro Castillo só não virá porque está preso a outros compromissos.
*Augusto de Franco é escritor e palestrante
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