Chapa Lula-Alckmin: entenda a nova Carta ao Povo Brasileiro Chapa Lula-Alckmin: entenda a nova Carta ao Povo Brasileiro
O Antagonista

Chapa Lula-Alckmin: entenda a nova Carta ao Povo Brasileiro

avatar
Inv Publicações para O Antagonista
7 minutos de leitura 06.07.2022 17:25 comentários
Brasil

Chapa Lula-Alckmin: entenda a nova Carta ao Povo Brasileiro

No dia 20 de junho, a frente "Vamos Juntos pelo Brasil", formada pelos partidos PT, PSB, PC do B, PV, PSOL, Rede e Solidariedade, que compõem a chapa Lula-Geraldo Alckmin (foto), publicou um documento intitulado "Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil"...

avatar
Inv Publicações para O Antagonista
7 minutos de leitura 06.07.2022 17:25 comentários 0
Chapa Lula-Alckmin: entenda a nova Carta ao Povo Brasileiro
Foto: Ricardo Stuckert

No dia 20 de junho, a frente “Vamos Juntos pelo Brasil”, formada pelos partidos PT, PSB, PC do B, PV, PSOL, Rede e Solidariedade, que compõem a chapa Lula-Geraldo Alckmin (foto), publicou um documento intitulado “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil”.

Segundo sua página introdutória, os pontos elencados serão a base para o plano de governo. Dessa forma, isso lembra muito a Carta ao Povo Brasileiro, divulgada em 2002, quando a coalizão da época disse, entre outras coisas, que não iria dar calote na dívida nem no FMI e seria pró-mercado. Criou-se para o futuro presidente até o apelido de “Lulinha paz e amor”.

Os efeitos do documento foram profundos. Desta vez, temos algo bem parecido, mas que as pessoas parecem ter ignorado de forma geral.

O texto elenca 121 pontos de destaque, abrangendo diferentes tópicos. Vamos aqui resumir aqueles que consideramos mais relevantes para a economia brasileira e para o mercado financeiro, fazendo referência aos parágrafos específicos para quem quiser consultar o documento original.

Assim, segue um resumo dos principais pontos:

1 – 2. Precisamos reconstruir o Brasil e a democracia.

3. A política econômica vigente é a principal responsável pela decomposição das condições de vida da população, pela instabilidade e pelos retrocessos na produção e no consumo. Setores estratégicos do patrimônio público são privatizados, bancos públicos e empresas de fomento estão sendo destruídos e o quadro na infraestrutura é desolador.

4. Políticas sociais estão sendo mutiladas, assim como as conquistas de certas minorias. Isso se deve à falta de investimentos em educação e saúde, ao mesmo tempo em que a cultura é criminalizada.

6 – 10. Basicamente, os partidos da coalizão se comprometem com a agenda ESG (do inglês environmental, social, and corporate governance; na tradução, governança ambiental, social e corporativa).

11. Voltar a inserir o Brasil nos organismos internacionais multilaterais.

12 – 13. Ampla proteção social aos trabalhadores, principalmente aos autônomos, que trabalham por conta própria, como teletrabalho e trabalhadores em home office, ou mediados por aplicativos, revogando marcos regressivos da legislação atual.

14. Reestruturação sindical.

15. O governo vai investir em infraestrutura e educação para criar empregos, entre outros setores. Reforma agrária.

16. Aumentar o salário mínimo.

17. Reformar a Previdência para ficar maior e incluir todos os brasileiros, desmontando o modelo regressivo atual.

18. Alimentação para todos. Fortalecimento do SUS. Um programa Bolsa Família mais abrangente.

19 – 30. Investimentos em educação, saúde, cultura, habitação e segurança pública e Social.

31 – 35. Estratégias de segurança pública serão mudadas, principalmente com relação ao tráfico de drogas; o combate a ele será menos bélico e mais baseado em inteligência e investigação.

36. As mulheres deixarão de ser discriminadas e marginalizadas, ganhando salários iguais em todas as profissões.

37 – 40. Focada em questões raciais, reforçando a política de cotas.

41 – 46. Proteção de povos indígenas, jovens e crianças.

47 – 50. Investimento na economia através do governo federal ou de empresas estatais.

51 – 52. Fim do teto de gastos. Super-ricos pagando mais impostos.

53 – 54. Reforma tributária buscando simplificação, queda da sonegação e justiça social.

55.  Combate à inflação.

56 – 58. Criação de estoques reguladores de combustíveis. Nova política de preços focada no repasse dos ganhos do pré-sal para a sociedade.

59. Reduzir a volatilidade na moeda brasileira através de uma política de intervenção mais ativa.

60. Renegociar as dívidas de 66 milhões usando os bancos públicos e privados.

61 – 64. Aumentar o investimento público, via financiamento e compras governamentais.

65 – 69. Melhorar a produção agrícola.

70 – 76. Retomada do investimento em infraestrutura, sendo que o capital privado poderá ser parte importante. Recompor o papel coordenador do Estado e das empresas estatais.

77 – 79. Se opõem à privatização de Petrobras, Eletrobras e Correios.

80. Fortalecimento dos bancos públicos, como BB, CEF, BNDES, BNB e Basa, e da Finep, principalmente para concessão de crédito de longo prazo e fornecimento de garantias em projetos estruturantes.

81 – 96. Investimentos em tecnologia e digitalização do Brasil. Revigorar o turismo, o empreendedorismo, a economia solidária, sem deixar de cuidar do lado ambiental, mas sempre com o protagonismo do governo federal.

97 – 108. Reforçar a democracia e o protagonismo do Brasil como líder na América Latina e patrocinador de políticas que ajudam países mais pobres.

109. Serão construídos novos mecanismos de participação direta de grupos no orçamento federal.

110 – 121. Transparência e combate à inflação.

Em suma, nos interessa principalmente aquilo que é objetivo, dado que grande parte do documento não é. O que fica extremamente claro é que o governo será muito maior e mais intervencionista em todas as facetas da economia, chegando até à política cambial e monetária, o que em tese violaria a independência do Banco Central.

Também se pretende voltar atrás não na reforma trabalhista e no modelo sindical, mas até na da Previdência. Se farão, é outra discussão, mas é o que diz claramente o texto. Outra coisa que chama muito a atenção é a quantidade de novos direitos e investimentos que serão criados sem que nem sequer se aponte de onde virão esses recursos: apenas o fim do teto de gastos e a cobrança de impostos dos super-ricos não fecha a conta de médio e longo prazo.

Além disso, se o governo sair expandindo o crédito, teremos uma nova onda inflacionária, o que poderia causar um descontrole de preços e, posteriormente, um provável ciclo de alta adicional. Esse cenário para a Bolsa traz evidentes ganhadores e perdedores: se você é um amigo do governo, vai ter crédito mais barato do que seus concorrentes. Se você é um setor estratégico ou destino de recursos estatais, terá uma vida tranquila, principalmente se souber agradar ao partido.

Empresas ligadas ao aumento do poder de compra da população mais pobre também serão beneficiadas no curto prazo com o primeiro movimento de expansão de crédito; porém, tendem sofrer depois, quando a inflação voltar a subir.

O mercado de renda fixa deve ficar com taxas mais elevadas por mais tempo, por receios fiscais. Num primeiro momento, o câmbio tende a se beneficiar dessas taxas mais altas, com o Banco Central intervindo na venda da moeda para ajudar a baixar a inflação por um tempo —mas, no longo prazo, é difícil saber.

Resumindo, é um modelo muito diferente do que temos hoje, trazendo diversos riscos e oportunidades. Para mim, que sou convicto de um modelo de Estado menor e não intervencionista, e dado que já vi a capacidade de estrago das políticas sendo sugeridas, tudo isso é muito preocupante. Mas seria um exagero dizer que algo nessa lista me surpreende.

Tenho apenas uma exceção, o item 109: “Serão construídos novos mecanismos de participação direta de grupos”. Para bom entendedor, isso é sinônimo de criar sovietes, grupos que entram tomando o poder do Congresso como representantes do povo, mas que no fundo são guiados pelo governo federal. Esse tipo de coisa explícita pode tornar a atual oposição do Congresso ainda mais forte, uma vez que o ambiente de 2022 é muito diferente do de 2002, quando a caneta de presidente tinha muito mais força.

Tempos estranhos.

Rodrigo Natali, estrategista-chefe na Inv Publicações.

Nota: eleições mexem com os ânimos dos investidores, e o mercado busca “precificar” a vitória de um ou outro candidato à Presidência. Nesse cenário, você precisa estar bem preparado para tomar a melhor decisão nos investimentos. Clique aqui e conheça o programa que Rodrigo Natali desenvolve na casa de análise independente Inv para orientar investidores comuns.

 

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Ellen DeGeneres deixa EUA após escândalos e reeleição de Trump

Visualizar notícia
2

"Sua hora vai chegar", diz Bretas a Paes

Visualizar notícia
3

Como Cid convenceu Moraes?

Visualizar notícia
4

Por que Luiz Eduardo Ramos ficou de fora da trama golpista?

Visualizar notícia
5

Crusoé: Cerco a Bolsonaro

Visualizar notícia
6

PF indiciou padre em caso de golpismo

Visualizar notícia
7

22 de novembro é feriado? Saiba onde!

Visualizar notícia
8

Microsoft pede a Trump endurecimento contra hackers russos e chineses

Visualizar notícia
9

"Ultrajante", diz Biden sobre mandado de prisão para Netanyahu

Visualizar notícia
10

E agora, Bolsonaro? As cenas dos próximos capítulos

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

Visualizar notícia
2

Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Visualizar notícia
3

Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Visualizar notícia
4

Damares pede informações sobre "reunião secreta" de Lula com ministros do STF

Visualizar notícia
5

E agora, Bolsonaro? As cenas dos próximos capítulos

Visualizar notícia
6

Golpes na Black Friday (21/11): Descubra como se prevenir e ter mais segurança

Visualizar notícia
7

Meio-Dia em Brasília: Jair Bolsonaro, mais uma vez indiciado

Visualizar notícia
8

Trump vai rever políticas trans em segundo mandato

Visualizar notícia
9

Kremlin garante que EUA entenderam a mensagem de Putin

Visualizar notícia
10

Concurso PM (22/11): 2.700 vagas com remuneração de até R$ 4.852,21! Veja como se inscrever

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Carta ao Povo Brasileiro economia brasileira Geraldo Alckmin Inv Publicações Lula mercado financeiro Partido dos Trabalhadores (PT) programa Rodrigo Natali
< Notícia Anterior

Ciro Nogueira passa por cirurgia de emergência

06.07.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

PGR arquiva investigação contra Paulo Guedes por manter filha em controle de offshore

06.07.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Inv Publicações para O Antagonista

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

STF quer julgar Bolsonaro antes do período eleitoral de 2026

Wilson Lima Visualizar notícia
Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Comunicado importante (22/11) para quem inclui CPF na nota fiscal. Veja suas vantagens

Visualizar notícia
Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Moro defende Bretas contra Paes: “Delinquentes são seus amigos”

Visualizar notícia
Carro colide com muro de cemitério em MT

Carro colide com muro de cemitério em MT

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.