Projeto que legaliza mineração em terras indígenas é inconstitucional, diz deputado Projeto que legaliza mineração em terras indígenas é inconstitucional, diz deputado
O Antagonista

Projeto que legaliza mineração em terras indígenas é inconstitucional, diz deputado

avatar
Wilson Lima
5 minutos de leitura 13.03.2022 11:00 comentários
Brasil

Projeto que legaliza mineração em terras indígenas é inconstitucional, diz deputado

O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), criticou em entrevista a O Antagonista a pressa do governo federal em tentar legalizar a atividade de mineração em terras indígenas...

avatar
Wilson Lima
5 minutos de leitura 13.03.2022 11:00 comentários 0
Projeto que legaliza mineração em terras indígenas é inconstitucional, diz deputado
Foto: Paulo Sergio/Câmara dos Deputados

O presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), criticou em entrevista a O Antagonista a pressa do governo federal em tentar legalizar a atividade de mineração em terras indígenas.

Nesta semana, a Câmara aprovou o pedido de urgência da proposta sob o argumento de que a autorização facilitaria a exploração de potássio no país, principal insumo para a fabricação de fertilizantes.

Segundo Agostinho, isso é apenas um pretexto para tirar do papel algo que Jair Bolsonaro já defende desde o início do seu governo.

“Os dados da Agência Nacional de Mineração mostram que apenas 11% das reservas de potássio conhecidas da Amazônia estão em terras indígenas”, declarou o parlamentar.

“É muito caro explorar potássio. Ele está na forma sólida. Não é simplesmente retirar o material e levar para a fábrica. A gente tem potássio disponível em minas já abertas em Sergipe, em Minas Gerais, em são Paulo, mas o Brasil se desindustrializou”, acrescentou.

A nossa Constituição é muito clara dizendo que os recursos naturais, apesar de serem da União, somente podem ser explorados pelos indígenas e não pelos não indígenas.”, disse o parlamentar.

Leia os principais trechos da entrevista:

Deputado, como o senhor avalia essa pressa do governo para conseguir aprovar o projeto de lei que libera a mineração em terras indígenas?

O governo vem falando em exploração mineral em terras indígenas desde o início do governo. Agora, percebeu que é o último ano, que provavelmente as votações mais importantes vão acontecer até junho, então o Poder Executivo resolveu apressar esse debate. A gente tem hoje, de acordo com os dados da própria Agência Nacional de Mineração, 4 mil pedidos de mineração em terras indígenas, distribuídos em 126 terras indígenas. A maior parte dos pedidos é garimpo, mas existem grandes companhias interessadas em fazer grandes projetos em áreas indígenas.

A gente acha que o projeto vai trazer muitos problemas na área de direitos humanos; haverá conflitos com indígenas, contaminação dos recursos naturais. Estamos muito preocupados. As terras indígenas são 13% do Brasil e dá para fazer mineração fora de terra indígena.

Um argumento que o presidente utiliza é que os índios endossariam essa ideia. É isso que de fato acontece?

A grande maioria dos indígenas é contrária e tem muitos indígenas que estão preocupados com a mudança na lei. Mesmo aqueles que estão em terras indígenas que não tem minério. Então, isso também acontece. Não é toda terra indígena que tem algum recurso mineral passível de se explorado. Temos situações muito extraordinárias, de algumas terras indígenas da Amazônia. Temos indígenas Mundurukus trabalhando no garimpo, não necessariamente eles são donos. É um trabalho quase que escravo. A gente pelos [povos indígenas] “Cintas Largas” a exploração de diamante, de cassiterita, mas são situações muito extraordinárias. Esse é um debate que precisa ser feito com mais transparência. É algo que vai manchar ainda mais a imagem do Brasil. O Brasil não precisa destruir esse patrimônio tão importante.

E a proposta? É inconstitucional?

Sim. A nossa Constituição é muito clara dizendo que os recursos naturais, apesar de serem da União, somente podem ser explorados pelos indígenas e não pelos não indígenas. A gente tem dois artigos na constituição que tratam desse assunto: O artigo 76 e 231. O que a gente tem: primeiro, esse assunto deveria ser regulamentado por lei complementar. E o projeto que tramita na Câmara, não é um projeto de lei complementar.

E, segundo, se a Constituição é muito clara em dizer que só os povos indígenas podem explorar os recursos, não faz sentido a gente estar discutindo um projeto que fala o contrário. Esse projeto autoriza a mineração e a agricultura convencional, em terras indígenas, por não indígenas. A Constituição é muito clara, o usufruto é exclusivo.

E como o senhor avalia essa argumentação do governo de que o projeto é importante, neste momento, diante da crise internacional no fornecimento de fertilizantes, por causa da guerra na Ucrânia?

Os dados da Agência Nacional de Mineração mostram que apenas 11% das reservas de potássio conhecidas da Amazônia estão em terras indígenas. Então, para começar, se quiser explorar potássio pode explorar fora [de terras indígenas]. Metade dos pedidos e das autorizações de exploração mineral são da Petrobras, a Petrobras que é pública, não está explorando potássio. A outra metade é de uma empresa canadense, que montou uma empresa no Brasil chamada Potássio do Brasil S.A. e essa empresa conseguiu autorizações, conseguiu o direito de lavra, mas também não está explorando potássio. Mas por que isso não está acontecendo? Porque o potássio na Amazônia ele ocorre a 800 metros de profundidade. É muito caro explorar potássio. Ele está na forma sólida. Não é simplesmente retirar o material e levar para a fábrica.A gente tem potássio disponível em minas já abertas em Sergipe, em Minas Gerais, em são Paulo, mas o Brasil se desindustrializou. Nós fechamos as fábricas de fertilizantes. Não é algo que se resolve em curto prazo.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

"Sem anistia!" Para Lula também?

Visualizar notícia
2

Crusoé: Comunista Flávio Dino é tudo, menos juiz

Visualizar notícia
3

Tropas russas cruzam inesperadamente rio Oskil, em Kharkiv

Visualizar notícia
4

Os fantasminhas da Embratur

Visualizar notícia
5

Mais uma frente contra o Janjapalooza

Visualizar notícia
6

Mancha misteriosa em imagem de santa intriga fiéis em Goiás

Visualizar notícia
7

Mercadão de sentenças nos tribunais brasileiros?

Visualizar notícia
8

Crusoé: O que pensa o presidente uruguaio eleito sobre Venezuela

Visualizar notícia
9

Prefeitura de SP reclama de "retrocesso" de Dino sobre cemitérios

Visualizar notícia
10

Kamala Harris e o fiasco financeiro de sua campanha de US$ 1,5 bilhão

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Temer compara 8 de janeiro a protestos contra reforma da Previdência

Visualizar notícia
2

MST quer a cabeça do ministro Paulo Teixeira

Visualizar notícia
3

Divaldo Franco (97) é diagnosticado com câncer

Visualizar notícia
4

Marçal a caminho do União Brasil

Visualizar notícia
5

Encontro anual da confederação israelita: com direita, sem Bolsonaro

Visualizar notícia
6

Bolsonaro emocionado ao som da sanfona

Visualizar notícia
7

Crusoé: O meme é a mensagem de Elon Musk

Visualizar notícia
8

Sabotagens e ataques: a guerra híbrida da Rússia contra a Europa

Visualizar notícia
9

App bet365 - Tutorial para baixar e instalar o aplicativo em 2024

Visualizar notícia
10

Pacheco fala em 'divergência respeitosa' com Arthur Lira

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Jair Bolsonaro potássio Rodrigo Agostinho Terras indígenas
< Notícia Anterior

NYT lamenta morte de Brent Renaud, ex-colaborador do jornal

13.03.2022 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Deputados federais gastam R$ 1,3 milhão em 2021 com locação de aviões

13.03.2022 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Wilson Lima

Wilson Lima é jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão. Trabalhou em veículos como Agência Estado, Portal iG, Congresso em Foco, Gazeta do Povo e IstoÉ. Acompanha o poder em Brasília desde 2012, tendo participado das coberturas do julgamento do mensalão, da operação Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff. Em 2019, revelou a compra de lagostas por ministros do STF.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Deputado quer fiscalizar Carrefour após boicote a carnes do Mercosul

Deputado quer fiscalizar Carrefour após boicote a carnes do Mercosul

Deborah Sena Visualizar notícia
PSOL vai lançar candidatura de Henrique Vieira à Presidência da Câmara

PSOL vai lançar candidatura de Henrique Vieira à Presidência da Câmara

Visualizar notícia
STF forma maioria contra proibição de crucifixo em prédios públicos

STF forma maioria contra proibição de crucifixo em prédios públicos

Visualizar notícia
Temer compara 8 de janeiro a protestos contra reforma da Previdência

Temer compara 8 de janeiro a protestos contra reforma da Previdência

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.