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Com Lula, PT quer apostar de novo em ‘boom do consumo’

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Diego Amorim
6 minutos de leitura 01.02.2022 16:35 comentários
Economia

Com Lula, PT quer apostar de novo em ‘boom do consumo’

Como noticiamos mais cedo, há um esforço no entorno de Lula, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto, para que o PT não embarque no clima de já ganhou, a oito meses das eleições deste ano. Mas há petistas, claro, já bastante animados com as chances de voltarem ao poder. Uma liderança do partido, com acesso a Lula, disse a O Antagonista...

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Diego Amorim
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Com Lula, PT quer apostar de novo em ‘boom do consumo’
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Como noticiamos mais cedo, há um esforço no entorno de Lula, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto, para que o PT não embarque no clima de já ganhou, a oito meses das eleições deste ano.

Mas há petistas, claro, já bastante animados com as chances de voltarem ao poder. Uma liderança do partido, com acesso a Lula, disse a O Antagonista, em reservado, que o ex-presidiário tem dito que, caso saía vitorioso das urnas, pretende recuperar a era do “boom do consumo”.

A partir da oficialização da pré-candidatura de Lula, prevista para março, a intenção é intensificar aquela batida mensagem de que, no governo dele, o brasileiro tinha “carne na mesa e tanque do carro cheio”. A avaliação é a de que, como antes, “há uma demanda por consumo bastante reprimida” no Brasil. Em razão dessa leitura, a fonte petista disse ser “lógico” que o partido turbinaria algum programa de distribuição de renda, pegando carona no Auxílio Brasil, que, por sua vez, é uma continuidade do Bolsa Família.

A liderança do PT afirmou, ainda, concordar que, se eleito, Lula poderá reassumir o Planalto com “algum sentimento de vingança” — ele teve condenações por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava Jato, anuladas, mas não foi inocentado. “Sim, é possível [reassumir com vingança], mas ele agirá com ‘tapa de luva’, e não com ‘sangue nos olhos’, e isso passará pela condução da economia”, emendou.

Quase 20 anos atrás, em 2003, Lula não começou seu primeiro ano de governo apostando no “boom do consumo”, que só se concretizaria dois, três anos depois. “Ele fez uma política fiscal dura e apertada no início. A taxa de investimentos subiu. Só depois veio a parte do consumo”, lembrou o economista Roberto Ellery Júnior.

“Era um outro momento. O próximo presidente vai pegar uma situação ruim, sem a base econômica que Lula teve e manteve, inicialmente, em 2003. Não há aquele mesmo boom de commodities. Após Jair Bolsonaro, não há referência de política fiscal. O teto de gastos está acabado, a despeito do que dizem integrantes do governo. E a melhora fiscal que há é muito em cima de inflação”, acrescentou Ellery. “Se o Lula vier a assumir com uma pegada de estímulo, portanto, poderemos virar uma Argentina, com inflação ainda maior e uma confusão tremenda nas contas públicas”.

Do ponto de vista político, o PT considera acertadíssima e eficaz a estratégia de relembrar aquele “pai Lula” que, em pronunciamentos no rádio e na TV, pedia aos brasileiros que consumissem, sem levar em conta o cenário posterior de endividamento e de taxas de inadimplência em alta. “Boom de consumo não se sustenta. O que faz uma economia crescer é produzir mais. Consumo gera bolha”, ponderou Ellery. Lula e o PT sabem disso.

O economista Paulo Rabello de Castro, que chefiou o IBGE e o BNDES no governo Temer, após a derrocada de Dilma Rousseff, um produto petista, concorda que o crescimento sustentável de uma economia está atrelado a poupança e investimento, não a “voos de galinha” estimulados por consumo desenfreado. Mas ele disse a O Antagonista que jorrar crédito no mercado e, assim, estimular os gastos da família tende a ser uma política econômica fácil adotada por qualquer um que ganhar as eleições em outubro próximo.

“No caso do Lula, seria mais do mesmo. Mas há uma sensação quase que geral de que o fundo do poço já passou. Portanto, o presidente que assumir em 2023 terá, muito provavelmente, um cenário de melhora contínua da economia. Qualquer um vai fazer isso [apostar no crédito e, consequentemente, no consumo]. Isso será o básico. O Ciro Gomes vai querer fazer isso. O João Doria vai querer fazer isso. Os bancos vão adorar”, comentou Rabello de Castro. Ele ainda disse que a esperada melhora da economia a partir de 2023 será “alardeada pelo próximo presidente como sendo uma grande vitória, mas esse cenário é quase assegurado”“Tentar ser melhor que Bolsonaro é tirar pirulito de criança”, provocou.

Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, afirmou a este site que não aconselharia o próximo presidente a iniciar o mandato apostando no “boom de consumo”. “Eu aconselharia a não inaugurar com as velas ao vento assim não. Me parece um pouco precoce. Seria ir com muita sede ao pote”, disse o economista.

Para Freitas, será preciso, antes de pensar na dobradinha crédito-consumo, resolver a desconfiança fiscal e retirar as fragilidades da situação cambial. O economista entende a lei do teto de gastos como medida provisória importante, mas defende que será necessário investir mesmo é em resultado primário estrutural. “O próximo presidente ficaria mais tranquilo, no campo econômico, se, primeiro, consolidasse a credibilidade. Aos poucos, poderia impulsionar o consumo. O próprio Lula, no primeiro mandato, só conseguiu investir nisso [no consumo] depois de muito plantio”, disse.

Leia também: Na economia, o PT não aprendeu nada e não esqueceu nada

Recentemente, Lula escolheu Guido Mantega como porta-voz econômico em uma série de artigos publicados na Folha. Na ocasião, o ministro da Fazenda mais longevo da história do Brasil distorceu fatos e simplesmente ignorou a era Dilma Rousseff, quando a economia brasileira sofreu as consequências da “bonança” lulista. Se o PT pretende reviver o tal “boom do consumo”, não é difícil supor que Lula e sua turma queiram também investir, de novo, por exemplo, no modelo de compadrio marcado por abuso do uso de crédito e de estatais para transferir renda para empresários amigos. Seria como se tivéssemos dado uma voltinha para, no fim das contas, acabar parando em um lugar já conhecido. Como Diogo Mainardi escreveu em sua coluna na mais recente edição da Crusoé, “o Brasil morreu”.

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Diego Amorim

Se formou em jornalismo pela UnB. Trabalhou no Blog do Noblat e no Correio Braziliense. Gosta da notícia e dos bastidores dela em qualquer área. Entre outros prêmios, ganhou duas vezes o Esso de Informação Econômica e duas vezes o Embratel. Está em O Antagonista desde abril de 2016, quando se juntou à equipe para a cobertura do impeachment de Dilma Rousseff. Desde então, não tem dado sossego a políticos de todos os partidos em Brasília. É chefe de redação de O Antagonista em Brasília.

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