Gilmar Mendes e a arte da política
No Fórum Jurídico de Brasília, também conhecido como Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pela faculdade da qual é sócio, o ministro Gilmar Mendes (foto) comentou a entrada de ex-integrantes da Lava Jato na política. Ele disse: “A política e os políticos devem comemorar a sinceridade. Se [eles] faziam política antes exercendo cargo de procurador e de juiz, agora o farão no campo certo, no campo da política, filiando-se a um partido político. Certamente terão que prestar contas do que fizeram no passado...
No Fórum Jurídico de Brasília, também conhecido como Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pela faculdade da qual é sócio, o ministro Gilmar Mendes (foto) comentou a entrada de ex-integrantes da Lava Jato na política. Ele disse:
“A política e os políticos devem comemorar a sinceridade. Se [eles] faziam política antes exercendo cargo de procurador e de juiz, agora o farão no campo certo, no campo da política, filiando-se a um partido político. Certamente terão que prestar contas do que fizeram no passado.”
E ainda:
“De fato, é a demonstração de que talvez já fizessem política antes, com uma outra camisa. Agora farão política a partir da vestimenta de um partido político e jogando no campo adequado. Boa sorte [a eles].”
Dias antes, no Twitter, em referência sutil como o berrante de um vaqueiro matogrossense à filiação de Sergio Moro ao Podemos, o ministro disse:
“Alerto há alguns anos para a politização da persecução penal. A seletividade, os métodos de investigação e vazamentos: tudo convergia para um propósito claro — e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele. A receita estava pronta.”
Não vou aqui cansar o leitor mais uma vez com observações sobre a historieta de que a Lava Jato agiu com propósitos políticos. O que ela fez foi pegar políticos de praticamente todo o espectro partidário. Este artigo é apenas para sugerir a Gilmar Mendes que, para o bem do Brasil, o ministro saia do armário jurídico e entre formalmente na política.
Política é o que Gilmar Mendes vem fazendo desde há muito. Ele tem gosto pela coisa e, reconheçamos, talento. Conversa com políticos fora da agenda, visita reservadamente palácio presidencial, recebe presidentes na sua casa, faz festa de aniversário para político, tece considerações políticas nos seus votos e entrevistas, planta notinhas na imprensa, cerca-se de políticos, como no fórum que ocorre neste momento, e muda de opinião igualzinho a qualquer político brasileiro. Política, política, política. Gilmar Mendes até elaborou uma PEC para a instauração do regime semipresidencialista no Brasil — que recebeu o carimbo de “urgente” no Senado e foi publicada por engano, em 2017. Pois é, o amor de Gilmar Mendes pela arte da política é tanto que, corajosamente, ele fez o que não podia: tentar mudar a Constituição que jurou defender como ministro do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, cogitou-se que ele queria virar primeiro-ministro, uma vez que, pela proposta, a Câmara poderia escolher uma pessoa sem mandato para ocupar o cargo. Muito justo.
Alguém poderia perguntar: se Gilmar Mendes já é um dos homens mais poderosos do país, o que ele ganharia deixando o Supremo Tribunal Federal, para ingressar na arena política? Não é essa a questão, senhores. A pergunta não é o que o Brasil pode fazer por Gilmar Mendes, mas o que Gilmar Mendes pode fazer pelo Brasil.
Para o bem do país, ele deveria deixar o STF, virar formalmente político, filiar-se a um partido (as suas opções são mais numerosas do que as de Sergio Moro, por exemplo) e jogar no campo adequado. Seria fato a comemorar com sinceridade.
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