Omar Aziz: "Ainda estamos trabalhando para passar muita coisa a limpo" Omar Aziz: "Ainda estamos trabalhando para passar muita coisa a limpo"
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Omar Aziz: “Ainda estamos trabalhando para passar muita coisa a limpo”

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Wilson Lima
5 minutos de leitura 01.08.2021 16:00 comentários
Entrevista

Omar Aziz: “Ainda estamos trabalhando para passar muita coisa a limpo”

Ao longo de três meses, a CPI da Covid revelou bastidores e detalhes sobre como ocorreram as negociações para compra de vacinas e como o governo federal desprezou as ações de controle da pandemia...

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Omar Aziz: “Ainda estamos trabalhando para passar muita coisa a limpo”
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Ao longo de três meses, a CPI da Covid revelou bastidores e detalhes sobre como ocorreram as negociações para compra de vacinas e como o governo federal desprezou as ações de controle da pandemia.

Na primeira etapa das investigações, o colegiado descobriu que as ações de enfrentamento da pandemia foram coordenadas a partir de um “Ministério da Saúde paralelo” e apontou indícios de corrupção no governo de Jair Bolsonaro a partir das negociações de compra de 20 milhões de doses da Covaxin.

Na próxima terça-feira, a CPI retomará os trabalhos e, segundo o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), a meta será intensificar algumas frentes de investigação e começar a sistematizar as principais conclusões em relatório final. “Estamos trabalhando justamente para passar a limpo muita coisa que ainda carece de explicação”, disse Aziz em entrevista a O Antagonista.

A ideia do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), é que o documento seja apresentado no fim de setembro. A expectativa é que o texto seja encaminhado para a Procuradoria-Geral da República, para o presidente da Câmara dos Deputados e até para o Tribunal Penal Internacional.

Leia os principais trechos da entrevista:

Senador, qual é a expectativa para a retomada dos trabalhos da CPI?

Em uma investigação, você procura investigar fatos, não pessoas. E vamos intensificar os nossos trabalhos. Agora, não podemos falar em uma expectativa como se fosse um jogo de futebol. Isso não pode ser considerado um jogo. CPI é CPI. Tudo pode acontecer.

Em Brasília, é comum se falar que ‘tudo pode acontecer, inclusive nada’. Isso também pode ocorrer com a CPI?

Ah, isso aí não existe. Não tem a menor possibilidade. Nós estamos trabalhando justamente para passar a limpo muita coisa que ainda carece de explicação [sobre a conduta do governo federal ao longo da pandemia].

Nos primeiros três meses de trabalho, a CPI acumulou várias informações e alguns senadores admitem que essa primeira etapa foi importante para entender como uma comissão de inquérito funciona. O que será diferente a partir de agora?

Agora, o debate vai fluir de forma diferente. Por exemplo: o governo tinha as suas versões em relação às vacinas e a gente mostrou para a população brasileira que, de fato, o Brasil nunca teve interesse em comprar vacina. Principalmente imunizantes de empresas sérias, de empresas que fazem ‘compliance’. O Brasil preferiu as empresas intermediárias. Então, isso aí é algo que a população brasileira não tinha conhecimento.

Mas teve outras descobertas que o senhor acha importante?

Sim. Você sempre tinha a versão do presidente dizendo: ‘ah, não vou comprar essa ‘vachina’  [em relação à Coronavac], e ficava por isso mesmo. Ou ele também falava: ‘ah, o Brasil é uma economia forte e são eles [as farmacêuticas] que deveriam ter interesse de vender para a gente’. Todos esses argumentos foram se diluindo no debate público. Além disso, no primeiro momento, setores do governo tentaram desqualificar a CPI e não conseguiram. Isso tudo foi importante para se ter um debate mais qualificado sobre o que aconteceu na pandemia.

No início dos trabalhos da CPI, o senhor falou que o principal objetivo do colegiado era dar respostas para os brasileiros sobre os responsáveis pelas centenas de milhares de mortes por Covid no país. O senhor acha que a CPI já achou essas respostas?

O Brasil já tem as respostas sobre o que aconteceu na pandemia. Agora, é colocar isso no papel: as omissões, as pessoas responsáveis, quem tentou tirar proveito da compra de medicamentos e de vacinas. Temos que colocar isso no papel. Algumas certezas nós, assim como todos os brasileiros, já temos: a história do ‘tratamento precoce’, isso não se fala mais no Brasil. Só se fala agora de vacina, vacina e vacina.

Até então, antes da CPI, se falava ainda de imunização de rebanho, e isso não se fala mais. Todo o dia o presidente falava sobre ‘tratamento precoce’, mostrava caixa [de cloroquina] e hoje já não se fala mais. Além disso, a CPI descobriu quais laboratórios tiraram proveito dessa pandemia.

Sinceramente, eu preferiria que estivesse errado em algumas coisas que até então apenas imaginávamos ou especulávamos. Mas, infelizmente, não estávamos errados. Descobrimos até mesmo que profissionais de saúde tentaram vender a ideia do tal ‘tratamento precoce’ em páginas de jornais. Não saberíamos disso se não fosse a CPI.

A CPI, então, já cumpriu o seu papel?

A CPI tem um papel importante a cumprir e vamos descobrir mais coisas. Só não sabemos o quanto e quando. Mas nós estamos trabalhando para isso, para dar as respostas que o brasileiro almeja e nos cobra.

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Wilson Lima

Wilson Lima é jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão. Trabalhou em veículos como Agência Estado, Portal iG, Congresso em Foco, Gazeta do Povo e IstoÉ. Acompanha o poder em Brasília desde 2012, tendo participado das coberturas do julgamento do mensalão, da operação Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff. Em 2019, revelou a compra de lagostas por ministros do STF.

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