Após entraves com o governo Bolsonaro, Pfizer se prepara para ser chamada à CPI da Covid
Como O Antagonista disse ontem, a "bala de prata" da CPI da Covid poderá ser a recusa do governo de Jair Bolsonaro em adquirir 70 milhões de doses da vacina da Pfizer ainda no ano passado. Antes de, enfim, fechar contrato com a farmacêutica americana -- que desenvolveu, em menos de um ano, um imunizante com eficácia acima de 90% --, o Brasil recusou três ofertas da empresa...
Como O Antagonista disse ontem, a “bala de prata” da CPI da Covid poderá ser a recusa do governo de Jair Bolsonaro em adquirir 70 milhões de doses da vacina da Pfizer ainda no ano passado.
Antes de, enfim, fechar contrato com a farmacêutica americana — que desenvolveu, em menos de um ano, um imunizante com eficácia acima de 90% –, o Brasil recusou três ofertas da empresa.
Uma carta, em setembro de 2020, chegou a ser enviada ao governo brasileiro pedindo celeridade na decisão sobre a compra de doses — o mercado das vacinas já estava fervilhando naquele momento, claro. O Brasil ignorou o documento e, somente em janeiro deste ano, manifestou-se sobre o assunto, alegando que a vacina da Pfizer “causaria frustração”.
Como já noticiamos, se não houvesse optado por digladiar publicamente com a Pfizer, o Brasil poderia ter recebido o primeiro lote de vacinas ainda em dezembro de 2020, antes mesmo, portanto, do início da vacinação no país, com a Coronavac.
O Palácio do Planalto tem narrativa pronta sobre o episódio: representantes do governo federal continuarão dizendo que o que houve foi “cautela” e “prudência” — esse raciocínio, pelo jeito, não foi levado em conta na hora de promover a cloroquina e incentivar o tal “kit Covid”.
O principal entrave para as negociações envolveu a chamada “cláusula de responsabilização”, que isenta o laboratório de responsabilidade sobre possíveis reações adversas da vacina. Embora caiba a discussão, trata-se de uma prática comum na indústria farmacêutica. Quase uma centena de países aceitaram essa condição para ter o quanto antes o imunizante contra o novo vírus.
No Brasil, o governo escolheu brigar com a empresa. Jair Bolsonaro chegou a fazer chacota de tudo isso, como no fatídico discurso em que disse que a vacina poderia fazer as pessoas virarem jacaré. Ao mesmo tempo, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, subia o tom contra a farmacêutica em coletivas. A situação era considerada constrangedora pelos executivos da empresa nos Estados Unidos.
Enquanto isso, nos bastidores, integrantes do Ministério da Saúde “cozinhavam” os representantes da Pfizer. Em 2020, o então presidente da farmacêutica no Brasil, Carlos Murillo, teria passado literalmente um dia inteiro esperando para ser recebido por alguém do governo em Brasília, após confirmação de agenda. Pazuello não participava diretamente das conversas.
Esse simbólico “chá de cadeira” poderá ser explicado melhor na CPI da Covid, que será instalada na próxima semana no Senado. Integrantes do colegiado, segundo apurou O Antagonista, apresentarão requerimentos para ouvir representantes da Pfizer, que já se preparam para atender ao convite.
Até lá, a Pfizer optará por, oficialmente, manter o silêncio, desde o duro comunicado divulgado em janeiro deste ano, como resposta às críticas públicas do governo Bolsonaro. Na ocasião, a empresa informou, pela primeira vez, que havia encaminhado três propostas ao governo brasileiro, sendo a primeira em 15 de agosto de 2020. “Países como Estados Unidos, Japão, Israel, Canadá, Reino Unido, Austrália, México, Equador, Chile, Costa Rica, Colômbia e Panamá, assim como a União Europeia e outros países, garantiram um quantitativo de doses para dar início à imunização de suas populações, por meio de acordo que engloba as mesmas cláusulas apresentadas ao Brasil”, dizia trecho do comunicado.
Nos bastidores, executivos da empresa entendem que a situação envolvendo as negociações com o Brasil está mais do que clara e que o governo só resolveu, finalmente, fechar o contrato, no mês passado, após pressões resultantes de fatores como a comprovação da eficácia da vacina, o agravamento da pandemia e os movimentos do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com a Coronavac, além dos atrasos no cronograma da Fiocruz para a produção da vacina da AstraZeneca/Oxford.
O contrato assinado entre a Pfizer e o governo Bolsonaro prevê a entrega de 100 milhões de doses até o fim deste ano. O primeiro lote chegará no próximo dia 29.
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