Ruy Goiaba: o jornalismo existe para irritar
Ruy Goiaba, na Crusoé: "O jornalismo morre se for feito com essa preocupação de agradar: vira assessoria de imprensa ou claque pura e simples. Como a atividade requer um mínimo de contato com o mundo real, nunca terá o mesmo valor de entretenimento das fake news do WhatsApp -- já fracassa de saída nisso. E, muitas vezes, consiste exatamente em dizer o que ninguém gosta de ouvir. Para mim, a profissão é um exercício de humildade: todo dia ela me lembra de que o mundo não existe para satisfazer minhas vontades ou ser como eu gostaria que fosse. É um 7 a 1 diário, e nós vamos buscar a bola no fundo do gol toda hora..."
Ruy Goiaba, na Crusoé:
“O jornalismo morre se for feito com essa preocupação de agradar: vira assessoria de imprensa ou claque pura e simples. Como a atividade requer um mínimo de contato com o mundo real, nunca terá o mesmo valor de entretenimento das fake news do WhatsApp — já fracassa de saída nisso. E, muitas vezes, consiste exatamente em dizer o que ninguém gosta de ouvir. Para mim, a profissão é um exercício de humildade: todo dia ela me lembra de que o mundo não existe para satisfazer minhas vontades ou ser como eu gostaria que fosse. É um 7 a 1 diário, e nós vamos buscar a bola no fundo do gol toda hora.
Se aqueles que nunca saíram da pré-escola mental só querem ler notícias (ou ‘notícias’) que confirmem o que eles já pensam, paciência. Jornalismo é para ser irritante e desagradável mesmo — sobretudo com os detentores do poder, mas também (e até) com quem o consome. Millôr Fernandes, que não à toa se intitulava ‘o irritante guru do Méier’, estará para sempre certo: jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Não ganharemos o mundo, mas quem sabe a gente ainda preserve um restinho de alma. (Menos eu, que esqueci a alma no bolso traseiro da calça, pus para lavar e perdi para sempre.)”
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