Roberto Campos Neto e o benefício da dúvida
Integrantes da Lava Jato avaliam que a transformação do Coaf na Unidade de Inteligência Financeira, subordinada ao Banco Central, não significa propriamente o fim do combate à corrupção - mas é preciso ficar de olho nos próximos movimentos...
Integrantes da Lava Jato avaliam que a transformação do Coaf na Unidade de Inteligência Financeira, subordinada ao Banco Central, não significa propriamente o fim do combate à corrupção – mas é preciso ficar de olho nos próximos movimentos.
A criação de uma UIF reforça a característica de órgão de assessoramento. Ou seja, os relatórios produzidos podem gerar investigações ou acabar num arquivo morto. Tudo depende de quem estiver no comando.
A UIF será chefiada por Ricardo Liáo, que responde a Roberto Campos Neto, que responde a Jair Bolsonaro. Dizer que o órgão no BC não terá influência política é conversa para boi dormir, portanto.
Tudo depende do tipo de influência. O mesmo Coaf que ajudou a Lava Jato a descortinar o ‘Petrolão’ também foi o Coaf que permitiu a existência do esquema de corrupção na Petrobras.
Onde estava o Coaf quando doleiros, empresários e operadores movimentavam bilhões em propina no sistema financeiro. Onde estava o Banco Central?
Há dois anos, o Congresso aprovou uma ‘Lei de Leniência’ exclusiva para agentes do mercado. O BC resistiu à participação do MPF nas negociações dos acordos e até hoje a sociedade desconhece quais instituições financeiras firmaram colaboração e quais os crimes cometidos.
O nome disso é falta de transparência. Assim, esconder o velho Coaf dentro do BC com outro nome pode ser bem oportuno para quem estiver mal-intencionado.
Toda a ofensiva contra o “Coaf com Moro” surge justamente quando a Lava Jato abre uma importante frente de investigação que pode atingir grandes bancos.
Roberto Campos Neto, considerado um executivo de reputação ilibada, trabalhava até pouco tempo num desses bancões: o Santander, citado na delação de Antonio Palocci ao lado de outras importantes instituições financeiras.
Dito isso, o presidente do BC poderá mostrar nos próximos meses suas reais intenções (e dos seus chefes) e se a autonomia técnica dessa UIF (o novo Coaf) é para valer ou apenas a fachada de um acordão para estancar a sangria em nome da estabilidade do velho sistema.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)