O Brasil vive uma ‘epidemia’ de crack?
O ministro Osmar Terra enfrenta uma dúvida que não vem de hoje: definir se existe ou não uma epidemia de crack no Brasil...
O ministro Osmar Terra enfrenta uma dúvida que não vem de agora: definir se existe ou não uma epidemia de crack no Brasil.
O ministro Osmar Terra enfrenta uma dúvida que não vem de agora: definir se existe ou não uma epidemia de crack no Brasil.
No fim de maio, o governo mandou a Fiocruz engavetar uma pesquisa: o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, concluído em 2017. A fundação venceu licitação de R$ 8 milhões para fazer o estudo, dos quais afirma ter gasto R$ 7 milhões. O texto, porém, nunca foi oficialmente divulgado.
A Fiocruz fez 16 000 entrevistas em 351 cidades brasileiras. Elas mostram que 9,9% dos brasileiros entre 12 e 65 anos experimentaram alguma droga ilícita na vida.
Nos 30 dias anteriores ao levantamento, 0,1% dos entrevistados haviam usado crack. E 0,9% já haviam usado essa droga ao menos uma vez na vida.
Os números parecem grandes – um uso recente de crack para cada 1 000 brasileiros. Mas há vários problemas com tais estatísticas.
O primeiro é que o uso de outras drogas deve ser maior. O triplo de entrevistados (0,3%) declarou uso de cocaína nos últimos 30 dias; um número ainda maior (1,5%), de maconha. Se há uma epidemia de crack, então também deve haver dessas outras drogas.
Outro problema é que a definição de epidemia não é precisa. No site da Organização Mundial da Saúde (OMS), consta que epidemia é a “ocorrência em uma comunidade ou região” de doença ou comportamento relacionado à saúde “em excesso da expectativa normal”. Mas o número de casos que indica uma epidemia varia de acordo com “agente, tamanho e tipo da população exposta”, entre outros fatores.
Por isso, podemos encontrar diferentes especialistas dizendo que há ou que não há uma epidemia de crack, ou de drogas em geral, no Brasil.
Finalmente, como a epidemia se caracteriza por uma variação além da “expectativa normal”, são precisos dados de qualidade para produzir retratos do tipo “antes e depois”. Em maio, Osmar Terra escreveu que a pesquisa de 2017 da Fiocruz não é “passível de comparação com as anteriores”. O Ministério da Justiça afirmou que a metodologia usada impede a comparação dos resultados com os levantamentos antigos.
Não é de hoje que o debate existe. Em 2011, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou: “temos que reconhecer que estamos sim tecnicamente diante de uma epidemia de crack em nosso país”. Em 2013, ele reiterou o entendimento: “há uma epidemia de crack no nosso país”. Já naquela época, porém, nem todos concordavam com ele.
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