Censura nas redes: o pêndulo se move
O fato é que o pêndulo resolveu se mover. Está saindo de um lado e se dirigindo veloz e furiosamente em direção ao outro
Pois é. Esticaram tanto a corda que, se ainda não rompeu, está prestes a romper – e as consequências, podem apostar, serão enormes.
Uma das maiores “verdades” da vida é não haver solução simples para problemas complexos. A linha entre regulação e censura nas redes sociais é pra lá de tênue, e quando nas mãos, ou melhor, sob canetas togadas, de pessoas inclinadas ao autoritarismo – e culto à própria personalidade -, tanto pior.
No Brasil, em grande parte da Europa, Austrália e outras democracias mundo afora, a discussão sobre liberdade de expressão, desinformação e assuntos correlatos, que acabam se misturando, não é nova e cada vez mais intensa.
Ação e reação
Na esteira da insuportável imposição do pensamento politicamente correto, cultura woke, pautas identitárias e afins, as plataformas digitais foram sendo empurradas, ou melhor, encurraladas por pressões justas, mas igualmente por abusos de autoridade por todos os lados.
Reduzir as tentativas drásticas de algum controle por parte dos Estados à mera sanha autoritária, porém, é reducionismo bocó e contraproducente. Não é crível que autoridades políticas de países como a Austrália, por exemplo, estejam imbuídas apenas de objetivos censores.
No Brasil, o ápice foi o bloqueio da plataforma X, do controverso multibilionário Elon Musk. Na Europa, leis, processos e multas contra as chamadas “big techs” tornaram-se não mais exceção, mas quase regra. Na Austrália, foi aprovada uma das mais rígidas legislações contra o que as empresas de tecnologia chamam de “liberdade de expressão”, e os governos, de crime.
Efeito Trump
Na China e em outras autocracias ainda mais fechadas, nem se fala, pois as redes sociais ou estão banidas ou completamente desfiguradas, sob rígidos controles estatais.
A vitória de Donald Trump nas eleições americanas não trará consequências – de toda sorte, aliás – apenas para os Estados Unidos. Se o presidente eleito colocar em prática 10% de suas promessas alarmistas (barreiras comerciais, questões migratórias, políticas diplomáticas etc.), o mundo sofrerá “abalos sísmicos” de grande relevância.
Não se guerreia em série contra outras potências, de forma praticamente isolada, sem danos colaterais internos, extensivos a terceiros não diretamente envolvidos, pois quase irrelevantes, como no caso do Brasil.
Um novo tempo
Uma das consequências de abrangência mundial já está em andamento. Ao se aliar – e Deus sabe como – a Trump, Musk sabia o que estava fazendo. O poder quase ilimitado já lhe conferido começa a produzir efeitos. Seu colega de bilhões, Mark Zuckerberg, fez um pronunciamento oficial nesta terça-feira, 7, sobre as novas diretrizes da Meta, colosso onipresente que engloba simplesmente Facebook, Instagram e WhatsApp entre outras redes gigantescas.
Zuckerberg deixou claro que novos tempos virão, e que as regras anteriores de mediação e checagem de conteúdo acabaram. Entre várias medidas de flexibilização, a transferência do time responsável, da Califórnia (epicentro mundial do identitarismo e afins) para o Texas, pólo oposto em questões relacionadas a tal agenda.
Mark atacou duramente os países que entende prejudicarem as “empresas americanas” – suas, claro! -, notadamente os europeus, e de forma absolutamente clara e cristalina, para bons entendedores, chamou o Supremo Tribunal Federal (STF) de “tribunal secreto”, que age nas sombras (essa expressão é minha).
Turbulência à vista
Juntos, Musk e Zuckerberg, sob as bênçãos de Donald Trump, irão girar em 180 graus a bússula do que muitos entendem como civilidade – e eu sou um destes muitos, com diversas ressalvas, obviamente.
O mundo da comunicação de massa está prestes a experimentar uma nova era, com consequências para a humanidade, em todos os países. E isso não é exagero meu, não!
Se para o bem ou para o mal, saberemos com o passar de alguns poucos anos, mas intuo que para o mal, ainda que provisoriamente – é o tal do “vai piorar antes melhorar”.
O fato é que o pêndulo resolveu se mover. Está saindo de um lado e se dirigindo veloz e furiosamente em direção ao outro. O “speech” do manda-chuva da Meta é só o primeiro acorde para a “ordem unida”. Cada palavra foi meticulosamente pensada e ajustada a Musk, Trump e outros big poderosos, que comungam das mesmas ideias e interesses.
Apertem os cintos! Anos confusos à frente.
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Comentários (3)
Rosa Maria Chagas
07.01.2025 20:14Está excelente seu texto Ricardo. Parabéns!
Rosa Maria Chagas
07.01.2025 20:14Está excelente seu texto Ricardo. Parabéns!
Marian
07.01.2025 18:52Bons e poderosos ventos começam a soprar no mundo. Que tudo o que nao é bom, seja varrido mesmo.