A responsabilidade do governo Lula sobre o colapso da ponte na BR-226
O Brasil é como a ponte partida
O colapso da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira — que ligava, pela BR-226, as cidades de Estreito, no Maranhão, e Aguiarnópolis, no Tocantins — ilustra o Brasil: um país que quebra após e durante os avisos de que vai quebrar, deixando uma porção de vítimas pelo caminho.
A BR-226 é uma rodovia federal brasileira que liga as cidades de Natal-RN e Wanderlândia-TO. Isto significa que o responsável por ela é o governo federal, atualmente sob presidência de Lula, com o filho de Renan Calheiros (MDB-AL), Renan Filho, como ministro dos Transportes, Fabrício Galvão como diretor-geral do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito) e Fábio Pessoa da S. Nunes como diretor de Infraestrutura Rodoviária. O superintendente do DNIT no Tocantins é Renan Bezerra de Melo, que já foi preso pela Polícia Federal em 2017, depois de ter exercido o cargo de superintendente de Obras.
No sábado, 21 de dezembro, um morador publicou um vídeo denunciando a situação local:
“Já pensou se essa ponte cai? Já pensou o estrago que faz, para os dois municípios?”, indagou. “Porque, se chegar a dar um desastre aqui, vão falar que não teve gente que avisou. Mas estamos aqui avisando vocês: isso aqui está um perigo!”
“Olha só essa rachadura aqui”
No domingo, 22, um vereador de Aguiarnópolis, filmado por um colega na beira da ponte, apontou “os veículos pesados que passam por aqui”. “E eu gostaria de chamar a atenção das autoridades competentes para que viessem e tomassem uma providência”, cobrou ele.
“Eu quero até mostrar pra vocês… chega aqui, um pouco mais aqui, ó… olha só algumas rachaduras”, apontou o vereador, que ainda chamou a atenção para uma delas, mais comprida: “Olha só essa rachadura aqui”.
Justamente quando ele denunciava esse dano lateral visível na estrutura da ponte, a pista por onde passavam os veículos rachou, erguendo, num primeiro momento, uma dobra, sobre a qual uma pick-up, que aparece no vídeo freando bruscamente, passou como se fosse um quebra-mola; e, num segundo momento, cedendo e abrindo um buraco que impediu a moto seguinte, com duas pessoas, de passar.
“É, caiu”
“Olha ali! Sai daí! Sai de perto! Meu Deus do Céu!”, gritou o rapaz que filmava, alertando o vereador. Eles então desceram correndo pela subida da ponte, preocupados também com quem pudesse ter sido atingido embaixo, com a queda daquele trecho específico da pista.
De longe, um vídeo de outro morador mostra o restante do desmoronamento, ou seja, de todo o vão central situado acima do rio Tocantins, que fez oito veículos despencarem. “É, caiu. Caiu a ponte aqui, nesse momento, no Estreito. Ponte caiu aqui. Tinha uns caminhão [sic] em cima aqui. Ê desastre”, lamentou o morador, diante dos escombros da principal parte dos 533 metros de extensão da ponte, que foi construída na década de 1960 e integrava o corredor rodoviário Belém-Brasília.
Até a tarde desta segunda-feira, 23, a Defesa Civil da cidade de Estreito confirmou duas mortes (uma jovem de 25 anos, identificada como Alana; e um homem de 42 anos, identificado como Marçon Gley Ferreira), além do número de 16 pessoas desaparecidas.
Buscas interrompidas
As buscas pelos desaparecidos foram interrompidas devido ao derramamento de ácido sulfúrico de um dos caminhões no rio.
“Precisamos saber a qualidade da água para que nós possamos colocar as nossas equipes de mergulhadores, que já estão aqui. Nós temos mergulhadores, temos equipamentos, embarcações e todo o efetivo está pronto para realizar as buscas e identificar qual vai ser a localização dos veículos e das vítimas que se encontram dentro dos veículos”, disse o coronel Magnum Coelho, do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, após a coleta de amostras de água para análises químicas, feitas para verificar se os materiais tóxicos ainda estão presentes no rio ou já se dissiparam.
Ministro
O ministro dos Transportes, Renan Filho, publicou, na noite de domingo, no Instagram, um vídeo sobre suas providências posteriores ao colapso que matou pelo menos dois brasileiros:
“Eu tô gravando esse vídeo porque eu tinha agenda amanhã em Alagoas. Nós iniciaríamos a duplicação da BR-101 e eu também tinha programado uma entrevista na TV Gazeta, afiliada da Rede Globo, para prestar contas do que fizemos ao longo de 2024.
Precisei cancelar essas duas agendas porque logo cedo, nas primeiras horas do dia, vou me deslocar à divisa do estado do Tocantins com o Maranhão, vou comunicar aos dois governadores de Estado, ao governador Wanderley [Barbosa, do Republicanos] e ao governador [Carlos] Brandão [do PSB], com quem já falei durante o dia de hoje. Me acompanhará o diretor-geral do DNIT [Fabrício Galvão], para que a gente possa verificar quais as causas, determinar uma apuração profunda do que ocorreu e iniciar já as tratativas para a reconstrução da ponte.
Eu também fiz contato com o ministro Rui Costa, informei ao presidente [Lula] o procedimento que vamos adotar para que a gente possa estar presente nesse momento de dificuldade, comuniquei ao presidente [Lula] a nota do DNIT, o posicionamento do Ministério e nós vamos amanhã no local iniciar o trabalho, observar se infelizmente ocorreram mais vítimas, para que a gente possa dar a resposta possível diante desse desabamento da ponte na BR-226.
Então eu queria informar a todos que tinham agenda comigo em Alagoas, informar também ao país que nós vamos trabalhar duro para a reconstrução da ponte sobre o rio Tocantins, lá na BR-226, na divisa do estado do Maranhão com o estado do Tocantins, e determinar as devidas apurações do fato ocorrido. Era isso que eu tinha a comunicar.”
Governador
Em seguida, o governador reeleito do Maranhão, Carlos Brandão — que foi vice no governo de Flávio Dino e assumiu o poder quando o atual ministro do Supremo Tribunal Federal renunciou ao cargo em abril de 2022 para se candidatar ao Senado — acenou no X para o governo federal:
“Agradeço a atenção do presidente Lula e do ministro Renan Filho no que diz respeito ao desabamento da ponte que liga o Maranhão ao Tocantins. Amanhã estaremos no local vendo de perto toda a situação, e trabalharemos juntos para superarmos esse triste episódio.
Como medida preventiva, suspendemos as operações de mergulho, em razão de relatos de que um dos dois caminhões que caíram no rio Tocantins transportava substâncias nocivas à saúde e ao meio ambiente. Peço que a população evite contato com a água.
Seguimos dando o suporte necessário ao governo federal com as equipes do nosso governo presentes e comprometidas em garantir a segurança e o apoio às famílias.”
Presidente
O presidente Lula esperou o ministro Renan Filho chegar ao local das mortes para mostrar no X, no fim da manhã de segunda, que acompanha de Brasília a movimentação posterior a elas:
“Acompanho com muita atenção os desdobramentos da queda da ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira, entre os estados do Tocantins e Maranhão.
O ministro Renan Filho está no local com os governadores do Maranhão, Carlos Brandão, e do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e autoridades nacionais e locais para prestar toda ajuda do governo federal na retomada do resgate das vítimas e apuração sobre o ocorrido.
Meus sentimentos aos familiares das vítimas.”
Agora é fácil
Agora é fácil falar em sentimentos, lamentar mortes e visitar o local, sem assumir qualquer responsabilidade. Mas onde estavam todos eles quando a ponte JK de Oliveira, da BR-226, dava sinais de risco para a população?
Em 18 de dezembro, quatro dias antes do colapso, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, do PT, exaltava no X o governo Lula pelas condições da BR-226.
“Que beleza tá a 226, lutei muito pela federalização desta rodovia!
“Gratidão ao querido presidente Lula, o ministro Renan Filho, Getúlio Batista do DNIT no RN.
Sigamos!”, escreveu Fátima na postagem, que incluiu um vídeo no qual ela mostrava, de dentro de um veículo em movimento, “como tá bonita” a rodovia e quantificava em “vinte anos” sua luta pela federalização.
Em 8 de julho, Renan Filho, também estava lacrando no X, afirmando “que as rodovias estão cada vez melhores no governo do presidente Lula”, porque “infraestrutura responde a investimento”.
“Sabe o que acontece quando o governo federal aumenta o investimento em rodovias? As rodovias melhoram!”, propagandeou o ministro em vídeo, na mesma postagem. “Mais investimento melhora a sua vida. Mais investimento somado a trabalho técnico competente, dedicado, significa melhoria ainda maior”, completou.
Quem faturou?
Até novembro de 2023, na verdade, o governo Lula já havia garantido R$ 1,5 bilhão à empresa LCM Construção e Comércio, selecionada 29 vezes pelo DNIT, autarquia vinculada ao Ministério dos Transportes. Seis obras que somam R$ 196 milhões foram contratadas sem licitação, ou seja, sem concorrência pública. Dessas, os maiores contratos se referem a obras precisamente na BR-226 (prevendo pavimentação e melhorias) e na BR-316, no Maranhão, no valor de R$ 79,5 milhões.
Histórico de acusações
A LCM já foi acusada pela Polícia Federal de fraudar medições e pagamentos em serviços de pavimentação na BR-364, em Porto Velho (RO). A investigação, segundo a PF, evitou um prejuízo de R$ 12 milhões aos cofres públicos.
Já o dono da LCM, Luiz Otávio Fontes Junqueira, foi acusado de improbidade pelo Ministério Público Federal no Tocantins por um prejuízo de R$ 4,8 milhões em obra na BR-153, também contratada pelo DNIT. Ele ainda foi acusado de superfaturamento na construção de um hospital em Santarém, no Pará. O caso rendeu prejuízo de R$ 1,8 milhão e o empresário virou réu em ação movida na Justiça paraense.
A LCM surgiu em 2014 e aproveitou a brecha de mercado decorrente do cerco da Lava Jato sobre outras empreiteiras aliadas de Lula.
O descaso lulista
Com a extinção da força-tarefa no governo Bolsonaro, o “investimento” voltou a ser mote do governo Lula, que instrumentaliza ministérios, departamentos, empresas públicas, órgãos de fiscalização e tribunais, garantindo novamente fortunas a empresários amigos, enquanto o restante do país, literalmente, desmorona.
Ê desastre.
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Comentários (7)
Marian
23.12.2024 20:01Temos o prenúncio de uma obra emergencial e tosca, será?
Claudemir Silvestre
23.12.2024 19:46Esperar oque desta família RENAN, alem de corrupção e total incompetência ??!!
Sandra
23.12.2024 17:19As pessoas que caíram próximo ao caminhão com ácido sulfúrico, e as que estavam na água e perto do caminhão provavelmente não serão encontradas, esse ácido corrói todo o corpo da pessoa, e em contato com a água fica muito mais corrosivo.
Luis Eduardo Rezende Caracik
23.12.2024 16:54Que se punam os culpados exemplarmente! Só com punição se aprenderão as lições e se reduzirá a negligência
Alexandre Ataliba Do Couto Resende
23.12.2024 16:39Em agosto/23 eu passei por essa ponte, indo de Brasília para Belém. O que me chamou muito a atenção foi de que saindo do Tocantins, passando por essa ponte, entramos em um arremedo de estrada, pois a má conservação era tão grande que não se podia chamar aquilo de estrada. E continuou assim por todo trecho Maranhense. Em Tocantins quando no trecho pedagiado era razoável, depois no trecho sem pedágio continuava de razoável para ruim, no nível das estradas brasileiras, após, no Pará, voltava ao razoável. Então não me é espanto ou surpresa, é só uma ponte há muito abandonada em um trecho há muito abandonado. Espero que repórteres viagem nesse trecho Maranhense e constatem o que eu vivi.
Guilherme Rios Oliveira
23.12.2024 16:35Leia-se "super ministro do governo petista".
Guilherme Rios Oliveira
23.12.2024 16:34Esse governo é de uma competência que dá até inveja. Uma ponte de 64 anos ruir só agora nos dá três certezas incontestáveis, primeiro, não foi erro de projeto, segundo, não foi erro de execução e terceiro, foi falta de manutenção. Daí o super ministro petista, ex governador do segundo estado mais pobre do Brasil, Alagoas, filho do grande senador Renan Calheiros, é super ágil em contratar a construção de uma nova ponte em caráter emergencial, sem licitação a ser executada em tempo recorde, sendo que se tivesse manutenção adequada os custos seriam infinitamente menores. Só entregando pra Deus, porque todos os poderes são suspeitos.