Fim de semana trágico no Brasil: somos pequenos e sós
A solidão, na dor, é extremamente lancinante. Aos enlutados, sobretudo nesta época do ano, minha especial solidariedade
Estou na comunicação há pouco mais de oito anos, principalmente no colunismo opinativo. Comecei com o blog Opinião Sem Medo, no portal UAI, passando pela revista e site da Istoé, e atualmente estou no O Fator, parceiro de O Antagonista em Minas Gerais, ainda que o rádio atualmente faça parte do meu trabalho (sou comentarista da Rádio 98, em Belo Horizonte, após passagem pela Rádio Itatiaia) e tenha me levado para os programas audiovisuais de O Antagonista – Meio-dia em Brasília e Papo Antagonista -, portal onde também sou colunista.
Minha área primária é política, mas não apenas. Estudo e me informo cotidianamente sobre quase tudo, o que me permite analisar os fatos com substância e segurança, o que não significa – jamais!! – que seja “dono da verdade”. Ao contrário. Minhas opiniões são fruto do meu entendimento sobre os fatos, a partir dos meus próprios conceitos e valores. Ao leitor e ao “teleweb amigo ouvinte” (termo cunhado pelo meu querido colega João do Vale, da 98) caberá a própria opinião. Não me considero nem desejo ser “formador de opinião”. Muito menos “influencer”.
A digressão acima foi necessária para contextualizar o que vem a seguir. Nestes anos de colunismo, vez ou outra, abordo temas cotidianos e, digamos, existenciais. Quem já me acompanhava nos outros veículos sabe bem disso. Aqui no O Antagonista, como a agenda política tem sido intensa, ainda não tive oportunidade. Porém, neste fim de semana, a “chance” apareceu. E como – ufa! – nossos políticos deram uma trégua, cá estou, abrindo a última “semana cheia” de 2024, com uma reflexão pra lá de complexa e, por que não?, pesada de ler e refletir.
Mundo, mundo, vasto mundo
Pensar na morte não é uma tarefa fácil, nem muito menos escrever e ler a respeito. Para quem, como eu, já trilhou mais da metade do caminho, tanto pior. Mas, acreditem os mais novos e ainda não capazes de encarar os medos de frente, quanto mais ciência e clareza da realidade, mais fácil lidar com as angústias e temores. Basta iniciar e não sucumbir à “preguiça” de combater o bom combate. Sim, bom. É libertador tratar, senão com leveza, com coragem aquilo que mais nos aflige: a finitude. Seja a natural ou, pior, a trágica e inesperada.
Este fim de semana, no Brasil, foi especialmente triste. Um acidente de ônibus, nas mortais estradas federais de Minas, ceifou a vida de 41 pessoas e deixou centenas de amigos e familiares enlutados. Um acidente de avião, no Rio Grande do Sul, matou dez passageiros (alguns, membros de uma mesma família) e também deixou um rastro de dor e sofrimento para os entes queridos das vítimas fatais. Já a queda de uma ponte entre Tocantins e Maranhão tirou a vida de pelo menos duas pessoas. E no Espírito Santo, outro acidente de trânsito vitimou cinco pessoas.
Estou fora do país, estudando, por isso escrevi “no Brasil”. Nos EUA, onde me encontro, basta um “scroll” pelos principais sites e o número de mortes violentas assusta. Mas acho que, estatisticamente falando, em um mundo com mais de oito bilhões de pessoas, é assim mesmo. Como diz friamente, ou melhor, “gelidamente” o ditado popular, “para morrer, basta estar vivo”. Isso é de um reducionismo cruel, eu sei. Mas, infelizmente ou felizmente, sei lá eu, trata-se da mais pura verdade. Só “passa desta para uma melhor” quem ainda está por aqui.
Penso, logo (ainda) existo
Nas horas vagas, o que mais faço é caminhar sem rumo, ouvindo música, o que me leva a pensamentos e emoções intensas. Após duas horas de reflexão neste domingo à noite, sob 11 graus negativos, cá estou no O Antagonista, pela primeira vez, “filosofando” para vocês. Ou melhor, expondo minha revolta – devidamente aplacada pela aceitação da realidade – com o que sempre chamei de “separação de corpos”. A morte, a meu ver, resume-se a isso: separar afetos, pois as lembranças e os sentimentos só cessam com a (também) morte de quem ficou.
Há quatro anos sou órfão de pai e mãe. Ser o “próximo” na fila da ordem natural é extremamente angustiante, sobretudo quando se tem profunda ligação com a vida. No meu caso, várias: trabalho, Galo, estudo, lazer, amigos, família. A filhotinha, então, nem se fala. Dói como estocada de faca em brasa no olho o pensamento da separação. Ainda que, se Deus quiser, antes dela. E ainda que, igualmente, eu creia que a morte encerra tudo (não acredito em nada após o fim da vida), restará a própria dor dela, o que basta para me corroer o coração.
A solidão, na dor, é extremamente lancinante. Por ter passado por algumas, sei bem. Ao pensar no dia e na noite que estão tendo – e terão – os enlutados das tragédias acima, me lembrei da sensação de observar o mundo “caminhando” normalmente como se nada tivesse acontecido, enquanto eu chorava minhas perdas. Mas, convenhamos, para o “mundo”, de fato, nada aconteceu. Até porque, está ocupado demais com suas guerras, desastres naturais, tragédias humanitárias e outras formas de dor. Nessas horas, o “cada um por si” me faz sofrer ainda mais.
Aos enlutados, sobretudo nesta época do ano, minha especial solidariedade.
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