Por que beber água é tão prazeroso quando estamos com sede?
Entenda os mecanismos biológicos que provocam a sensação de sede e como nosso corpo reage à perda de sangue por meio da suor.
Imagine-se praticando exercícios ao ar livre em um dia quente. Você está suando e a sensação de sede começa a dominar. Ao beber o primeiro gole de água, uma sensação imediata de alívio e felicidade toma conta do corpo. Mas, por que beber água é tão prazeroso quando estamos com sede?
A resposta está ligada a como nosso corpo reage à perda de sangue devido ao suor durante o exercício. Essa perda faz com que certas partes do cérebro, não protegidas pela barreira hematoencefálica, detectem mudanças no sangue, gerando a sensação de sede. Esse é um mecanismo crucial para nossa sobrevivência, conforme explica Yuki Oka, professor de biologia no Caltech.
Por que sentimos tanta sede ao nos exercitarmos?
A sensação de sede durante exercícios intensos tem a ver com a diminuição do volume sanguíneo. O cérebro, especificamente as áreas conhecidas como órgão subfornical (SFO), órgão vasculoso da lâmina terminal (OVLT) e núcleo pré-óptico mediano (MnPO), estão fora da barreira hematoencefálica e, portanto, rapidamente detectam essas mudanças.
Essas regiões cerebrais geram sinais que estimulam o comportamento de beber água. Um estudo de 2018 em camundongos demonstrou que, enquanto todas essas áreas possuem neurônios que impulsionam a ingestão de líquidos, o papel do MnPO é central, pois ele transmite esses sinais para outras partes do cérebro.
Como o ato de beber água se transforma em prazer?
Quando tomamos um gole de água, o cérebro não espera que ela seja completamente absorvida para começar a recompensar esse comportamento. Na verdade, mesmo antes da reidratação completa, nosso cérebro libera dopamina, o neurotransmissor responsável por sentimentos de recompensa e motivação.
Um estudo de 2019, conduzido por Oka e seus colegas, mostrou que camundongos com sede que beberam água liberaram dopamina, enquanto aqueles que receberam água diretamente no estômago não o fizeram. Isso sugere que o ato de beber — e não a saciação da sede — é o que provoca a liberação de dopamina.
Quais são os outros sinais que indicam saciação?
Além do prazer imediato do consumo de água, nosso corpo emite outros sinais de saciação. Uma vez que a água chega ao estômago, ocorre uma diminuição na proporção de sal para água no sangue, elevando os níveis de um hormônio chamado peptídeo intestinal vasoativo (VIP).
Esse hormônio, por sua vez, ativa neurônios que informam ao cérebro que o corpo está saciado. No entanto, ainda há muitos mistérios sobre como esse processo funciona, como a origem do VIP e a detecção da osmolaridade pelo organismo.
Hidratação e sobrevivência coletiva: Existe uma conexão?
A rápida saciação da sede pode também desempenhar um papel importante na prevenção da superidratação e possivelmente na sobrevivência de grupos, especialmente em situações onde recursos hídricos são limitados. Esta hipótese ainda não foi testada, mas é um campo de grande interesse para pesquisadores como Oka.
A eficiência do nosso corpo em lidar com a sede não só nos mantêm vivos e funcionando, mas também pode ter implicações mais amplas na evolução e comportamento social, incentivando a distribuição equitativa de recursos cruciais como a água.
Compreender melhor esse intrincado sistema pode abrir novas perspectivas na ciência da hidratação e no conhecimento sobre nossa própria sobrevivência e evolução social.
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