Orlando Tosetto na Crusoé: Onde mora a malcriada Democracia Bolivariana?
Não sei em que lugar de Caracas, cidade hoje mais modesta, mais humilde e mais low profile do que muitos dos piores bairros de São Paulo, morará a Democracia em sua versão Bolivariana
A Democracia Brasileira (sempre, sempre com respeitosas maiúsculas), como eu vos contei na primeira crônica que assinei nesta revista, vive mui modestamente ali pelos lados do Largo do Cambuci, que já é de si um logradouro dos mais modestos, dos mais humildes e low profile da capital paulista. Ela mora ali porque, Democracia que é, tem que ir aonde o povo está – tal e qual o artista, segundo reza lá a canção. Não só ir, mas também ficar por lá: alugar um cômodo, frequentar os botecos e quitandas, sambar, tomar umas e outras, dar barraco com o povo, torcer o pé nos buracos das calçadas pelas quais o povo anda, amanhecer nas sarjetas em que o povo amanhece, comer o arroz com ovo que o povo come, pegar as conduções lotadas e as filas que o povo pega, e assim por diante.
Não sei em que lugar de Caracas, cidade hoje mais modesta, mais humilde e mais low profile do que muitos dos piores bairros de São Paulo, morará a Democracia em sua versão Bolivariana (bigoduda, de uniforme, gritalhona, discursadora, temperamental e dada a ver e ouvir o pajarito verde). O certo é que, assim como sua irmã brasuca, a Democracia Bolivariana tem de ir aonde o povo bolivariano está e de onde, pelo visto, tão cedo não sairá. É lá que ela vive e apronta.
Viva ela como viver, entretanto, e apronte o que aprontar, é certo que sempre poderá contar com sua irmã do Cambuci, que a apoia em tudo e nunca a abandona nos seus desatinos eventuais, nas suas, digamos assim, pisadas na bola e na jaca. E, quando apoiar fica feio, a Democracia Brasileira ainda tenta fazer um meio de campo. “Espera um pouco aí, minha gente”, diz a Democracia Brasileira às suas irmãs, as outras Democracias, “ela vai consertar o estrago, ela vai mostrar as atas, ela vai pagar o conserto, ela vai limpar o chão sujo, ela vai tomar tento.” A Democracia Brasileira é uma irmã boa e atenciosa da Democracia Bolivariana: está sempre lá para lhe dar uma força, um banho, uma justificativa, um tempinho extra, um abraço apertado. Nisto, aliás, tem tido ultimamente a ajuda das Democracias Colombiana e Mexicana, irmãs que não se unem para quase nada mas, quando o assunto é a Bolivariana, estão sempre juntinhas e cochichando.
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