Por que os alemães vieram para o Brasil?
A região alemã de Hunsrück foi o ponto de partida de muitos imigrantes que vieram para o Brasil nos séculos XIX e XX
Hunsrück, uma pitoresca região no sudoeste da Alemanha, é amplamente reconhecida como o ponto de partida dos primeiros imigrantes alemães que vieram para o Brasil. Há mais de dois séculos, esta área desempenhou um papel crucial na história da imigração, marcando o início de uma jornada que moldou a cultura e a sociedade brasileira.
Os viajantes que visitam Hunsrück hoje em dia têm a oportunidade de mergulhar na rica história da região. Desde curiosidades sobre a vida dos alemães na época até os motivos que os levaram a deixar sua terra natal em busca de um futuro melhor no Brasil, a região oferece uma experiência única de aprendizado e descoberta.
Os Motivos por Trás da Imigração
Mas afinal, o que motivou tantos alemães a deixarem seu país e migrarem para o Brasil? Muitas dessas pessoas eram vítimas de uma grave crise de fome, exacerbada por uma crise climática em 1816, conhecida como “o ano sem verão”. Esta crise foi causada pela erupção de um vulcão na Indonésia, que levou a um período de extrema escassez alimentar.
Os relatos de Heribert Damgen, presidente da Associação Cultura Schabbach, ilustram bem a situação: “Era um tempo de muita pobreza. As pessoas não tinham o que comer e a fome tomava conta do país”.
Contribuições Germânicas: Preciosidades em Petrópolis
O legado dos imigrantes alemães pode ser visto em várias partes do Brasil, especialmente em Petrópolis, na Serra Fluminense. A construção do Palácio de Dom Pedro II, por exemplo, contou com a essencial contribuição de trabalhadores germânicos. Durante uma reforma recente no museu, uma peça com inscrições de trabalhadores foi encontrada.
O diretor do Museu Imperial, Maurício Ferreira, comentou sobre a descoberta: “Ele retirou a peça e percebeu uma inscrição. Ele trouxe e nós observamos que era um presente de dois funcionários que trabalharam na construção do palácio porque eles deixaram os seus nomes e suas funções”.
Quem São os Descendentes?
Ainda hoje, muitas famílias brasileiras preservam a rica herança cultural deixada por seus antecessores alemães. Roseli Vogel, descendente de uma família que chegou em Petrópolis em 1845, é um exemplo disso. Ela continua a preparar receitas tradicionais que aprendeu com sua mãe, mantendo vivas as tradições culinárias de seus antepassados.
Entre os pratos típicos está a ‘picada de abelha’, uma iguaria deliciosa que leva mel em sua composição. “O nome picada de abelha, ‘Binnenstich’, é porque a pessoa que estava fazendo lá na Alemanha levou uma picada de abelha. Aí ele botou esse nome”, relata a chefe de cozinha, Andréia Winter.
Enxaimel: Legado Arquitetônico dos Alemães
Poucas coisas são tão emblemáticas da imigração alemã quanto as casas em enxaimel. Esta técnica construtiva, desenvolvida na Alemanha da Idade Média, utiliza apenas madeiras encaixadas, sem o uso de pregos. Max Diel Volles, carpinteiro especializado em enxaimel, explica que “é como um grande jogo de quebra-cabeças. Todas as peças são numeradas e marcadas para justamente você identificar aonde vai, em que conjunto que ela vai e como ela vai ser montada”.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as referências à Alemanha foram evitadas, e a técnica caiu em desuso. Paulo Volles, mestre carpinteiro, relata que foi necessário recorrer a um alemão para redescobrir como construir essas casas. Atualmente, a família Volles, em Blumenau, trabalha na preservação dessa técnica e já construiu 50 casas nos últimos 15 anos.
Arte de Soprar Vidro: Tradição Viva no Brasil
A tradição de soprar vidro, trazida pelos cristaleiros alemães ao Vale do Itajaí, continua viva no Brasil. Denis Casa, de Pomerode, representa a última geração de sua família na produção de cristal. “Isso veio do meu avô, passou para o meu pai, do meu pai passou para os meus tios, meus primos e eu sou o último da linhagem. O último vidreiro, vamos ver se o meu filho vai seguir essa carreira também”, diz ele.
Essas valiosas habilidades trazidas pelos imigrantes ajudaram no desenvolvimento de diversas regiões no Brasil. A historiadora Sueli Petry ressalta que “no primeiro momento, os imigrantes desenvolveram o trabalho de cultivo da terra para subsistência. Assim que venceram essa etapa, passaram a pôr em prática seus conhecimentos, que são os embriões de nossas cidades e empresas”.
Para aqueles que querem saber mais sobre as contribuições dos imigrantes alemães no Brasil, continuar a explorar a história e as tradições de Hunsrück é essencial. Afinal, é um capítulo vital da história que ainda vive nas mãos e corações de muitos brasileiros.
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