Rodolfo Borges na Crusoé: A Alemanha jogou por sete bolas
A única forma de perder uma semifinal de Copa do Mundo por 7 a 1 é imaginar que você pode ganhá-la — ou melhor, que você tem a obrigação de ganhar mesmo quando já perdeu
Em sua coluna esportiva para Crusoé, Rodolfo Borges destaca nesta semana o trauma do fatídico 7 a 1 que completa dez anos na próxima segunda-feira, 8.
Uma década depois da traumática derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha, parece que tudo já foi dito — e, ao mesmo tempo, também que não se falou o bastante sobre aquela semifinal de Copa do Mundo. Alguma definição de trauma deve se aplicar a essa lógica.
Foi só depois de começar a ler Home and Away: Writing the Beautiful Game, uma troca de correspondência entre os escritores noruegueses Karl Ove Knausgård e Fredrik Ekelund durante a Copa de 2014, que atentei para a curiosidade de saber o que os dois acharam do 7 a 1. Como interpretaram, o que tinham para dizer, como me poderiam ajudar a entender?
Knausgaard se tornou uma estrela literária mundial com a série Minha luta, uma espécie de Em Busca do Tempo Perdido mais explícito e autodepreciativo. Ekelund é mais famoso por ser seu amigo, mas seu relato se torna automaticamente interessante por ele morar no Brasil, ser um entusiasta do Rio de Janeiro e fazer o papel de torcedor brasileiro contra o “argentino” Knausgård.
Enfim, os dois têm muito a dizer sobre futebol e literatura e a vida, mas, com a proximidade da efeméride de dez anos da maior tragédia do futebol brasileiro, pulei as páginas até chegar ao dia 8 de julho de 2014. E o amigo famoso tinha muito mais a dizer futebolisticamente de sua casa na Suécia do que o boêmio norueguês carioca, que, como se diz no popular, só sentiu.
“O Brasil era orgulhoso e, como em todas as tragédias, é isso o que leva à queda do protagonista”, analisa o best-seller ao se questionar por que não foi Gana a vítima da humilhação alemã. “A diferença é absolutamente vital: Gana sabia que a Alemanha era o melhor time e adaptou seu jogo a isso”, completa, referindo-se ao empate entre as duas seleções por 2 a 2 na fase de grupos.
O Brasil não adaptou seu jogo. Jogou de peito aberto.
A única forma de perder uma semifinal de Copa do Mundo por 7 a 1 é imaginar que você pode ganhar a partida — ou melhor, que você tem a obrigação de ganhar mesmo quando a partida já está perdida. O Brasil achou que poderia ganhar até levar o quinto gol. Só então o time se deu conta de que não havia mais o que fazer, senão evitar levar mais gols.
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