Muita facção para poucos fiscais no Brasil Muita facção para poucos fiscais no Brasil
O Antagonista

Muita facção para poucos fiscais no Brasil

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 25.06.2024 17:45 comentários
Brasil

Muita facção para poucos fiscais no Brasil

O Coaf recebeu em 2023 cerca de 1,7 milhão de operações suspeitas, mas apenas uma pequena fração dessas informações foi analisada detalhadamente

avatar
Redação O Antagonista
6 minutos de leitura 25.06.2024 17:45 comentários 0
Muita facção para poucos fiscais no Brasil
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Dois meses após O Antagonista publicar a nota “Lula sabota o Coaf, órgão de combate à lavagem de dinheiro”, um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o órgão não dá conta de rastrear o dinheiro das 72 facções criminosas em atividade no Brasil.

Com uma extensão que permeia desde o tráfico de drogas até a influência sobre serviços básicos, as facções criminosas continuam a se fortalecer, desafiando as forças de segurança.

Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) recebeu em 2023 aproximadamente 1,7 milhão de Comunicações de Operações Suspeitas (COS) e 4,4 milhões de Comunicações de Operações em Espécie (COE). No entanto, apenas uma pequena fração dessas informações foi analisada detalhadamente devido à insuficiência de recursos humanos e tecnológicos.

Dados do estudo revelam que, em 2021, grupos criminosos como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) atuaram não apenas em território nacional, como também alcançaram outras nações, dificultando ainda mais a fiscalização desse dinheiro oriundo do crime organizado, disse reportagem do O Globo.

Desafios na Rastreabilidade de Recursos

De acordo com o estudo, com menos de 100 servidores, o Coaf produziu 16.411 Relatórios de Informações Financeiras em 2023. Desses, 33,5% foram feitos a pedido da Polícia Federal, que teve 73,3% de suas solicitações atendidas. As polícias civis estaduais receberam 46,6% dos relatórios, atendendo 64,1% das requisições.

A atividade ilícita das facções tem um impacto econômico significativo. Um exemplo é o contrabando de cigarros do Paraguai, que levou o Brasil a deixar de arrecadar R$ 94,4 bilhões em impostos nos últimos 11 anos.

Além disso, estima-se que a cocaína que transita no Brasil gera um faturamento de US$ 65,7 bilhões anuais, representando 3,98% do PIB do país em 2021.

Lula sabota o Coaf

No fim de abril deste ano, O Antagonista mostrou que o Coaf, sob o governo Lula (PT), teve seu menor orçamento dos últimos cinco anos.

O órgão tem 17,6 milhões de reais a disposição para 2024, dos quais 8,4 milhões de reais já foram empenhados. O valor disponível é 30% a menos do que em 2023 para despesas discricionárias.

No ano passado, o Coaf tinha 23,6 milhões de reais para arcar com despesas como diárias, passagens aéreas, contribuições para organismos internacionais, serviços de tecnologia de informação e equipamentos e utilizou 99,8% do valor.

Em 2020, ano do período analisado em que o conselho teve o menor orçamento discricionário até então, estavam disponíveis 19,2 milhões de reais.

Em evento realizado na Faculdade de Direito da USP, realizado em abril, o presidente do Coaf, Ricardo Liáo, comentou o corte de recursos.

“Está difícil de a gente conseguir sobreviver, mas vamos fazer das tripas coração e tentar superar isso aí”, afirmou.

O Coaf

Criado há 25 anos, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras produziu relatórios que subsidiaram as principais investigações de lavagem de dinheiro do país, abastecendo, por exemplo, a Lava Jato.

Na operação, o órgão apontou movimentações atípicas de Lula, que agora o sabota reduzindo seus recursos, e seus filhos. O petista, no entanto, foi blindado pelo Supremo Tribunal Federal por meio de manobras processuais.

O Coaf também foi alvo de Jair Bolsonaro, que transferiu o conselho do Ministério da Justiça e Segurança Pública, de Sergio Moro, para o da Economia, de Paulo Guedes, quando avançaram as investigações sobre seu filho Flávio, que havia aparecido em lista do órgão.

PCC: a máfia na política

Na reportagem de capa, escrita por Duda Teixeira e Gui Mendes, em sua edição de número 311, Crusoé mostrou o quando o PCC evoluiu ao ponto de já poder ser considerado uma máfia.

O principal risco de permitir que uma máfia sugue o Estado é inviabilizar qualquer reação ao crime, gerando uma sociedade amedrontada e inapetente. Um exemplo das consequências desse fenômeno foi a revelação, em março, de que o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio, não apenas arquitetou a execução da vereadora Marielle Franco, do Psol, como atrapalhou as investigações. A Delegacia de Homicídios, chefiada por Barbosa, recebia, segundo um depoimento, entre 60 mil e 80 mil reais das milícias.

Como não têm uma atuação nacional, as milícias cariocas ainda não chegam ao ponto de poderem ser consideradas como máfias. Mas a investigação da morte de Marielle Franco mostra outra característica, ainda mais nociva. No Rio de Janeiro, o parasitismo é ainda mais explícito, uma vez que muitos policiais, vereadores, deputados estaduais e federais têm relação com esses grupos criminosos. É uma relação carnal, que se torna ainda mais deletéria por causa da elevada corrupção na polícia carioca. Assim, mesmo quando o Ministério Público do Rio de Janeiro realiza um bom trabalho de investigação, os promotores não contam com a devida proteção e as decisões da Justiça não são devidamente implementadas.

Um dos que mais tem alertado a sociedade sobre o vampirismo do PCC e suas consequências é o promotor do Ministério Público de São Paulo Lincoln Gakiya (assista à entrevista com ele nesta edição da Crusoé). Integrante do Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado do MP-SP, ele estuda o PCC há duas décadas e está jurado de morte — só se movimenta com pesada escolta de policiais militares. No início de abril, Gakiya apresentou os resultados da operação Fim de Linha, que resultou na intervenção municipal de duas empresas de ônibus, a Transwolff e a UPBus, cujos donos e sócios eram membros do PCC.

Leia também:

Brasil piora dez posições em ranking de percepção da corrupção

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Visualizar notícia
2

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
3

Relação do Brasil com a China de Xi Jinping alcança um novo patamar

Visualizar notícia
4

Jaguar se rende à cultura woke e é alvo de críticas

Visualizar notícia
5

Toffoli remói a narrativa dos grampos de Youssef

Visualizar notícia
6

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
7

Kassab projeta Tarcísio presidente até 2030

Visualizar notícia
8

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
9

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
10

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
2

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
3

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
4

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
5

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
6

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia
7

Crusoé: Morales acusa governo boliviano à ONU de violar direitos humanos

Visualizar notícia
8

Papo Antagonista: Indiciamento de Bolsonaro e bolsonaristas

Visualizar notícia
9

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
10

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Coaf Comando Vermelho facções criminosas governo Lula máfia PCC política
< Notícia Anterior

STF descriminaliza maconha e dá 18 meses para o Congresso regulamentar tema

25.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Onda de calor assusta a Europa e ameaça colheitas

25.06.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Redação O Antagonista

Suas redes

Instagram

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
Agora vai, Haddad?

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Mega-sena acumula e prêmio do próximo sorteio chega a R$ 18 milhões

Visualizar notícia
Bahia em alerta para aumento no número de casos de coqueluche

Bahia em alerta para aumento no número de casos de coqueluche

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.