O constrangedor arroz estatal
Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro passou quatro dolorosas horas na Câmara tentando explicar o inexplicável leilão de arroz anulado pelo governo Lula
Foi constrangedor. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (foto), compareceu à Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara nesta quarta-feira, 19, para explicar o desastrado leilão de arroz estatal do governo Lula.
Fávaro, que é o representante do agronegócio no governo Lula, sacou do bolso uma alegação de que o Palácio do Planalto reagiu a um “ataque especulativo” ao anunciar a importação de arroz estrangeiro. Isso não justifica, entre outras coisas, a propaganda que o governo fez do arroz que nem sequer chegou a comprar, porque foi forçado a cancelar o leilão após suspeitas de irregularidades.
Ao longo de quatro dolorosas horas, o ministro foi confrontado por deputados da oposição com a evidência de que não há justificativa para a importação do arroz, da qual o governo Lula ainda não desistiu, segundo o ministro. “A Conab realmente é reguladora de estoque, mas, neste caso, é uma coisa que cheira mal. Parem com isso, por favor”, pediu o deputado Alceu Moreira (MDB-RS).
E o Rio Grande do Sul?
Moreira foi um dos vários deputados a destacar que a medida provisória utilizada pelo governo para a importação do arroz determina que os recursos envolvidos devem ser utilizados no Rio Grande do Sul, cujas enchentes foram usadas pelo Planalto para justificar o leilão. Agora, contudo, o governo diz que a compra de 1 milhão de toneladas a 7,2 bilhões de reias se justifica pela regulação de preço no Brasil inteiro.
Coube a Marcel van Hattem (Novo-RS) lembrar outro detalhe relevante e curioso dessa história: Lula falava desde janeiro sobre a importação de arroz. Fávaro confirmou a informação e disse que, naquela época, o governo analisou que não seria necessário fazer a compra nem derrubar a taxa de importação. Esse contexto reforça as suspeitas sobre oportunismo do governo Lula na tragédia.
Inexplicável
Durante suas explicações, o ministro admitiu que, apesar do desastre das chuvas, a safra de arroz deste ano será 4,5% maior que a de 2023, o que espanta qualquer risco de desabastecimento. Mas mencionou um aumento de 30% no preço do arroz, que atribuiu a um “ataque especulativo” — foi contraditado com o fato de que esse aumento não ocorreu como consequência das enchentes, mas progressivamente, desde a metade do ano passado, por questões cambiais de do mercado internacional.
Fávaro também sugeriu que as empresas brasileiras da área boicotaram o leilão, e, por isso, alguns dos lotes foram parar nas mãos de companhias que nada têm a ver com venda de arroz, como expôs reportagem de Crusoé. O ministro se arriscou, contudo, a defender uma sorveteria que participou do leilão:
“Não quero fazer defesa de nenhuma, mas não se trata só disso [de uma sorveteria], parece que é uma empresa que tem uma boa expertise em produtos congelados, polpas de fruta, e até onde eu soube, tinha se preparado financeiramente com bancos para dar o suporte para que a operação se realizasse dentro da perfeição”.
“Não me parecem tão aptas a operar”
Na sequência, o ministro reconheceu que as outras empresas que arremataram lotes “não me parecem tão aptas a operar”. Fávaro também admitiu que não são necessárias as marcas do governo federal e dos ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário no arroz estatal, mas apenas a da Conab, e disse que está trabalhando para fazer esse ajuste no próximo edital de compra.
O ministro também não soube explicar direito a demissão de Neri Geller da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária. Em audiência realizada na mesma comissão da Câmara na terça-feira, 18, Geller disse que a decisão de fazer o leilão de arroz foi da Casa Civil. Nesta quarta, Fávaro atribuiu a decisão ao governo, de forma genérica.
O governo é Lula.
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