A semelhança entre Janja e Carlos Bolsonaro
A comunicação de Janja nas redes sociais gira em torno de sua própria figura, as postagem parecem ter como principal objetivo mostrar que ela estava presente no loca
A estratégia de comunicação nas redes sociais da primeira-dama Janja durante as enchentes no Rio Grande do Sul tem um erro significativo: a reivindicação de um protagonismo indevido. A presença dela nas redes é ostensiva, mas carece de substância e eficácia.
Boa parte de suas postagens, quase metade delas, foi voltada ao segmento pet. Primeiro tivemos a adoção da cadelinha Esperança em um abrigo no Rio Grande do Sul. Depois, continuou como novelinha. Ela foi ao veterinário, precisou de uma cirurgia, foi filmada no pós-operatório.
O maior movimento foi em torno de um cavalo de cor alazão apelidado de cavalo caramelo, refém da enchente, imóvel no teto de uma casa em Canoas. Nas redes, a primeira-dama se mostrou empenhada no resgate, como se estivesse movimentando o Exército para isso e recebendo fotos ao vivo do resgate.
Postou o vídeo em que ela presenciava pela Rede Globo o resgate e depois avisava o presidente Lula, com direito a discurso contra as fake news nesse trajeto. Ocorre que o resgate foi feito pelo Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, não pelo Exército. Por que omitir essa informação? Para não agradecer o governador Tarcísio de Freitas? Maldosos diriam até que foi fake news.
A comunicação de Janja nas redes sociais gira em torno de sua própria figura. Os vídeos e postagens parecem ter como principal objetivo mostrar que ela estava presente no local. Mas a presença, por si só, não constitui ajuda efetiva. Em contraste, outros políticos, como o presidente Lula, o governador Eduardo Leite e vários prefeitos, apareceram nas postagens realizando trabalhos concretos. As postagens deles não são sobre estar lá, mas sobre o que estavam fazendo.
Um paralelo interessante pode ser traçado com Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente. Ele também usou a tragédia das enchentes para se promover nas redes sociais, postando sobre sua presença no local, sem que ficasse claro o que exatamente estava fazendo para ajudar.
A semelhança entre os estilos de comunicação de Janja e Carlos Bolsonaro destaca um problema comum: a preferência pela aparência de ação sobre a ação real. Os dois até podem ter ajudado e não apenas acompanhado a ajuda já feita por terceiros ou pelo governo. Pelas postagens, no entanto, não é possível saber disso.
Boa parte dos políticos tem optado por outro tipo de estratégia. Conheço deputada, vereadores e assessores que se envolveram diretamente no resgate de pessoas, enfrentando as águas sem parar para fazer vídeos ou lives. O trabalho deles é uma prova de que a verdadeira ação nem sempre é capturada nas redes sociais, mas é sentida e reconhecida pelas pessoas que realmente importam: as vítimas e suas comunidades.
A tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul ainda demanda um longo processo de socorro e reconstrução. Com o tempo, o público inevitavelmente começará a distinguir quem está trabalhando de verdade de quem está apenas aproveitando a situação para autopromoção. Aqueles que se aproveitaram da tragédia sem contribuir significativamente acabarão pagando o preço político do ridículo.
A comunicação eficiente em tempos de crise exige mais do que presença nas redes sociais. Exige ação concreta, solidariedade genuína e um compromisso real com a ajuda às vítimas. Quando a primeira-dama ou qualquer político coloca a própria imagem acima das necessidades urgentes das pessoas, a resposta do público tende a ser severa e justificada. No fim, a verdadeira liderança se prova nas ações, não nas selfies.
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