Leonardo Barreto na Crusoé: Descuido com o fiscal indica que Lula não pensa na reeleição?
É bem possível que a decisão de gastar não sustente uma situação de bem-estar e o projeto de legado faça água na segunda metade do governo
“No longo prazo, todos estaremos mortos.” A frase, do economista britânico John Maynard Keynes, foi escrita em 1923, com a Europa saindo da Primeira Guerra, e defendia uma ação urgente do Estado para ajudar a organizar a vida de pessoas que se encontravam em situação muito precária.
Um século depois, é bem possível que Lula e Fernando Haddad, durante reuniões sobre o debate da meta fiscal, tenham se sentido estimulados a parodiar Keynes e dizerem, diante da decisão de não mais obter o equilíbrio fiscal até 2026, que, no “longo prazo, todos estaremos sem mandato”. Muda-se do “gasto é vida”, outra frase eternizada, mas dessa vez pela ex-presidente Dilma Rousseff, para o “gasta-se enquanto há vida”, citação que ainda espera um pai.
Lula tem sido muito transparente sobre suas intenções em relação à administração do país. Quer construir um legado de crescimento e bem-estar e, movido por uma enorme intuição, quer chegar lá por um caminho autoral, ignorando limites e lições que sequer vêm de livros de Economia, mas da dura experiência de fracassos recentes da história brasileira.
Como, a esta altura do campeonato, é impossível não saber onde esse caminho vai dar, pode-se imaginar que, muito mais do que cálculos econômicos, Lula faz uma conta de tempo político, coisa das mais comuns na política brasileira. Gastar e crescer para chegar em boas condições na próxima eleição, como inúmeros governadores e prefeitos fazem em todos os lugares, e deixar a conta para ser paga em um segundo mandato ou na gestão do sucessor.
A questão, no entanto, é que há muito tempo até 2026 e o país já vive um sério déficit de confiança na autoridade econômica, em razão exatamente de os agentes econômicos, empresários e consumidores, terem a memória fresca do que aconteceu na crise de 2015/2016, quando a economia do país caiu quase a mesma proporção do que despencou no primeiro ano da pandemia da Covid. Ou seja, é bem possível que a decisão de gastar não sustente uma situação de bem-estar e o projeto de legado faça água na segunda metade do governo.
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