Crusoé: Djamila Ribeiro e a apropriação do feminismo negro
Email do advogado Rafael Batista, ex-Twitter, mostra que a autora fez uma reclamação, que acabou em investigação civil. Ao final, ela pedia "pagamento de danos morais coletivos"
Uma das mensagens do Twitter Files, divulgadas pelos jornalistas Michael Shellenberger, Eli Vieira e David Ágape, mostra muito bem como operam os grupos identitários no Brasil e no exterior (para conhecer as principais revelações do Twitter Files, leia a reportagem “Os arquivos da discórdia” nesta edição da Crusoé).
Em primeiro lugar, esses grupos se colocam como os únicos representantes legítimos de uma causa. Depois, colocam-se como vítimas e ameaçam criar crises para empresas ou instituições. Por fim, pedem reparações em dinheiro.
Em um e-mail datado de 14 de junho de 2021, o advogado do Twitter Rafael Batista avisou seus colegas da empresa que ele tinha recebido um “aviso de reclamação“, que depois tinha se transformado em uma investigação civil contra o Twitter.
Batista afirma que “a vítima“, no caso, a autora Djamila Ribeiro (foto), tinha solicitado que a empresa realizasse um Acordo de Ajuste de Conduta, implantando medidas para inibir o discurso de ódio no Twitter.
Segundo o advogado da empresa, a companhia seria ouvida sobre as políticas e práticas implementadas para evitar o discurso de ódio.
“Apesar de a reclamação ser legítima, os pedidos são irracionais e nós não temos nenhuma obrigação de implementar essas medidas. Entretanto, nós ainda pensamos que é muito sensível sob a perspectiva reputacional dependendo de como a questão é abordada externamente, então nós estamos trabalhando para resolver isso (“to close with Comms and PP“, no original)”, escreve Batista.
O Twitter, portanto, estava preocupado com uma crise de imagem e queria resolver o resolver o assunto.
“A denúncia foi apresentada por Djamila Ribeiro, filósofa e jornalista brasileira após ofensas racistas/crimes de ódio dirigidas a ela (embora nenhum conteúdo específico tenha sido fornecido)”, escreve o advogado.
Entre os vários pedidos de Djamila, Batista faz uma pequena lista:
i) medidas de monitoramento de todos os trending topics para evitar conteúdos ofensivos especialmente contra mulheres negras;
ii) divulgação de informações de usuários sem ordem judicial em crimes de motivação racial;
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