O foro desprivilegiado do STF O foro desprivilegiado do STF
O Antagonista

O foro desprivilegiado do STF

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 12.04.2024 07:54 comentários
Análise

O foro desprivilegiado do STF

STF formou maioria para ampliar o foro privilegiado, que seus ministros conseguiram transformar em desprivilegiado para alguns políticos. Mas ainda restam autoridades com razões para se sentirem mais seguras por lá

avatar
Rodolfo Borges
4 minutos de leitura 12.04.2024 07:54 comentários 0
O foro desprivilegiado do STF
Foto: Jose Cruz/Agência Brasil

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello gosta de dizer que “vivemos tempos estranhos”. Um dos sinais mais recentes é o embate em torno do foro por prerrogativa de função. De uns anos para cá, o que é chamado informalmente de foro privilegiado se transmutou em foro desprivilegiado, a depender de quem é julgado.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) diz que ​​“longe de representar um privilégio pessoal, como muitos supõem, o foro especial por prerrogativa de função é destinado a assegurar a independência e o livre exercício de determinados cargos e funções”.

“Significa que o titular desses cargos se submete a investigação, processo e julgamento por órgão judicial previamente designado, que não é o mesmo para as pessoas em geral”, segue a definição do STJ.

O tribunal destaca ainda que o foro por prerrogativa de função faz parte no ordenamento jurídico brasileiro desde a Constituição do Império, de 1824, segundo a qual competia ao então denominado Supremo Tribunal de Justiça o julgamento dos “seus ministros, os das relações, os empregados no corpo diplomático e os presidentes das províncias”.

Alargado

O STJ diz que “com o passar do tempo e a evolução das constituições, as hipóteses de foro especial foram sendo alargadas gradativamente até atingir a conformação atual prevista na Constituição Federal de 1988, que abarca o presidente da República, parlamentares, magistrados e muitos outros”.

O “muitos outros” passou a incluir recentemente, de forma torta, os réus pelo vandalismo do 8 de janeiro de 2023, que não foram eleitos para cargo nenhum.

O fato é que, hoje, o STF julga quem quer. E quer mais. O tribunal formou maioria nesta sexta-feira, 12, com voto do presidente Luís Roberto Barroso, para ampliar o foro privilegiado para o julgamento de crimes mesmo após o fim da ocupação do cargo público pelo réu — o julgamento foi interrompido na sequência por um pedido de vista de André Mendonça.

Quer dizer, o processo segue no STF mesmo em caso de renúncia, não reeleição ou cassação e um senador pode ser julgado pelo que fez num mandato anterior de deputado, para mencionar o caso que está sendo julgado no momento.

O mesmo tribunal tinha decidido em contrário há apenas seis anos. Quem conduz a mudança, como de costume, é o decano Gilmar Mendes.

Reação

Se o STF quer mais proximidade das autoridades com cargo público, parte delas deseja cada vez mais distância do tribunal. Principalmente os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, para quem se tornou muito mais confortável passar por um processo conduzido ao longo de várias instância do que ser submetido a um julgamento sem direito a recurso, no Supremo.

Esses parlamentares se agitam hoje em torno de projetos para restringir o foro por prerrogativa de função aos presidentes da República, da Câmara, do Senado e do STF.

Os ministros do STF conseguiram transformar o foro privilegiado em desprivilegiado, pelo menos para alguns políticos. Isso seria bom, caso não restassem autoridades com razões para se sentirem mais seguras no Supremo.

Os privilegiados

Segundo pesquisa Datafolha, 79% dos eleitores petistas dizem confiar no Supremo, frente a 39% do país em geral e 18% dos bolsonaristas. O dado é eloquente diante de um tribunal de 11 ministros composto por sete indicações de presidentes petistas.

Apesar da movimentação para restringir o foro no Congresso, os políticos que se sentem mais confortáveis no STF resistem à ideia de ficar à mercê de juízes de primeira instância, como foi o hoje senador Sergio Moro (União-PR) durante a Lava Jato.

Muitos deles foram alvo da operação de combate à corrupção e, depois, viram suas condenações serem anuladas pelo STF. Enquanto o Supremo acossa suspeitos de tramar um golpe, também absolve réus confessos e suspende punições.

Se estivessem sendo todos condenados, haveria menos do que reclamar e também do que desconfiar.

Brasil

INSS antecipa 13º salário para aposentados em 2024: saiba as datas e detalhes

16.05.2024 05:30 2 minutos de leitura
Visualizar

Bolsa Família: confira o cronograma de pagamento

Visualizar

Justiça suspende SAF do Vasco e devolve controle do futebol a Associação

Visualizar

Morre Washington Rodrigues, o Apolinho, ícone do Rádio, aos 87 Anos

Visualizar

Desaparecimento de policial no Guarujá completa 1 mês

Visualizar

Quem é o criminoso libertado em ataque a comboio penitenciário na França

Visualizar

Tags relacionadas

André Mendonça Congresso Nacional foro privilegiado Gilmar Mendes Luís Roberto Barroso Marco Aurélio Mello STF
< Notícia Anterior

Crusoé: A questão do X

12.04.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Argentina condena Irã por atentados antissemitas de 1992 e 1994

12.04.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Lula, o insensível - parte II (e Janja também)

Lula, o insensível - parte II (e Janja também)

Wilson Lima
15.05.2024 19:32 2 minutos de leitura
Visualizar notícia
Os tucanos dormiram debaixo da chuva 

Os tucanos dormiram debaixo da chuva 

Carlos Graieb
15.05.2024 18:29 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
O "desafio zero" de Magda Chambriard

O "desafio zero" de Magda Chambriard

Carlos Graieb
15.05.2024 13:22 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
Um trampolim para Paulo Pimenta na enchente do Rio Grande do Sul

Um trampolim para Paulo Pimenta na enchente do Rio Grande do Sul

Rodolfo Borges
15.05.2024 10:27 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.