Caso Marielle: as lacunas do relatório da PF
O documento que embasou a prisão não contém provas que confirmem os encontros dos irmãos Brazão com o ex-policial militar Ronnie Lessa
O relatório da Polícia Federal que embasou a prisão dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, acusados de serem os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, tem lacunas e não contém provas que confirmem os encontros dos irmãos Brazão com o ex-policial militar Ronnie Lessa, contrariando o pacote anticrime aprovado em 2019.
O documento nem sequer estabelece um vínculo entre a família Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, acusado de atuar para obstruir as investigações.
Como registrou a Folha de S.Paulo, a PF atribuiu as dificuldades de comprovação da delação de Ronnie Lessa ao tempo decorrido do crime, efetuado em 2018, e à atuação de agentes de segurança para encobrir rastros.
“Diante do abjeto cenário de ajuste prévio e boicote dos trabalhos investigativos, somado à clandestinidade da avença perpetrada pelos autores mediatos, intermediários e executor, se mostra bem claro que, após seis anos da data do fato, não virá à tona um elemento de convicção cabal acerca daqueles que conceberam o elemento volitivo voltado à consecução do homicídio de Marielle Franco e, como consequência, de seu motorista Anderson Gomes”, diz o relatório.
“Neste sentido, a concatenação dos fatos trazidos pelos colaboradores, notadamente Ronnie Lessa, e a profusão de elementos indiciários revestidos de um singular potencial incriminador dos irmãos Brazão são aptos a atribuí-los a autoria intelectual dos homicídios ora investigados”, acrescentou.
Os encontros de Ronnie Lessa com os irmãos Brazão
Assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa relatou à Polícia Federal que teve três encontros com os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes do crime, entre 2017 e 2018.
O intermediário dos encontros era o ex-policial militar Edmilson de Oliveira, conhecido como Macalé, que foi morto em 2021 em um caso investigado como “queima de arquivo”.
Os dois primeiros encontros ocorreram nas proximidades do hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, próximo à residência dos políticos. Segundo a PF, nesse local os Brazão discutiram detalhes do crime com os executores.
No terceiro encontro, em abril de 2018, um mês após o crime, os irmãos Brazão disseram a Lessa que ele deveria devolver a arma utilizada na execução de Marielle Franco, uma submetralhadora HK MP5.
O carro usado no crime
Uma das poucas informações dadas por Ronnie Lessa e corroboradas com provas independentes foi a origem do veículo usado no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
À PF, o ex-PM disse que um Cobalt com placa clonada foi repassado por Otacílio Antônio Dias Junior, o Hulkinho, ao ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, também acusado de envolvimento no crime.
Hulkinho confirmou à PF o relato de Lessa, mas disse que não sabia como o veículo seria usado.
O relacionamento de Lessa com a família Brazão
A Polícia Federal também conseguiu provas que corroboram os relatos de Ronnie Lessa sobre sua relação com a família Brazão. Em depoimento, ele disse ter conhecido Chiquinho e Domingos Brazão entre 1999 e 2000, através de Macalé.
Desde então, eles teriam mantido contato semanal num haras da família.
Segundo a PF, dois funcionários do haras confirmaram ter visto Ronnie Lessa no local no período indicado.
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