Crusoé: Bajulação envergonhada
Ao enviar uma carta para Vladimir Putin, governo Lula mostra que quer seguir apoiando o ditador, mas sem ter de arcar com as repercussões negativas no Brasil e no exterior
Ao parabenizar o ditador Vladimir Putin pela fraude eleitoral que acabou no dia 17 de março, o governo brasileiro adotou um método diferente, envergonhado. Em vez de publicar uma nota oficial, como se faz tradicionalmente, o presidente Lula enviou uma carta para o Kremlin, cumprimentando o ditador pela sua vitória, diz Crusoé.
“Notas anódinas são uma prática corriqueira no Itamaraty. Desde que Lula assumiu o Palácio do Planalto, no início de 2023, o Brasil enviou cumprimentos para os vencedores das eleições no Congo, na Guatemala, em Bangladesh, no Egito, no Equador e na Guiné-Bissau. O fato de que Lula e o seu assessor especial Celso Amorim tenham escolhido outro método após a fraude eleitoral russa, contudo, revela um cálculo político, ao mesmo tempo que confirma as posições antigas em política externa do PT.”
“A carta de teor desconhecido para Putin indica que o governo quer evitar repercussões negativas no Brasil. Três pesquisas de opinião pública divulgadas nas últimas semanas apontaram queda na aprovação do governo (leia matéria de capa nesta Crusoé). Entre as áreas mais criticadas está a diplomacia e (especialmente os ataques verbais de Lula a Israel). Nesse cenário, soltar uma simples nota burocrática poderia cavar ainda mais fundo o poço da desaprovação ao atual governo.”
“Em outros momentos sensíveis, os petistas também foram espertos ao esconder suas simpatias. Foi assim no final de 2021, quando Lula começava a se apresentar como rival de Jair Bolsonaro para disputar as eleições presidenciais do ano seguinte. Em novembro daquele ano, o PT apagou uma nota em que saudava a eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua. Sete candidatos de oposição foram presos antes do pleito. Em fevereiro do ano seguinte, o site do PT no Senado apagou uma publicação nas redes sociais em que criticava os Estados Unidos pela invasão russa da Ucrânia, que ocorrera dias antes.”
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