Mais uma dúvida sobre a apuração da trama golpista
Transcrição de depoimento de servidor não atribui a Alessandro Moretti, ex-diretor adjunto da Abin, a fala que culminou em sua demissão
Ao contrário do relatório da Polícia Federal produzido no âmbito das investigações sobre a existência de uma Abin paralela na gestão de Jair Bolsonaro, transcrição de depoimento de servidor não atribui a Alessandro Moretti, ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a fala que culminou em sua demissão, registra a Folha de S.Paulo.
A incompatibilidade expõe mais uma dúvida sobre a apuração da trama golpista.
De acordo com o documento, tornado público em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, Moretti teria dito que a investigação teria “um fundo político e iria passar”.
A declaração foi interpretada pela PF como uma tentativa da atual gestão da Abin de embaraçar as investigações.
A demissão de Moretti foi ordenada pelo presidente Lula (PT) cinco dias após partes do relatório virem a público.
A transcrição do depoimento
Segundo o jornal, a transcrição do depoimento do servidor da Abin que cita ter ouvido a frase sobre “fundo político” não a atribui a frase a Moretti, mas sim à “direção-geral”.
A transcrição aponta que “a direção-geral disse aos servidores que ‘teria um fundo político e iria passar'”.
Participaram da reunião Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin indicado por Lula, mas cujo nome ainda não havia sido aprovado pelo Senado, Alessandro Moretti, ex-diretor-adjunto da agência, e Paulo Maurício Fortunado, número três da nova composição da Abin.
O servidor afirmou em seu depoimento que o objetivo da reunião era entender o andamento das investigações da PF. Ele disse também que Moretti se comprometeu a informá-los sobre as demandas da polícia e que os servidores deveriam colaborar com as investigações.
A PF questionou o depoente sobre uma suposta estratégia discutida na reunião, captada em mensagens apreendidas. O servidor negou que fosse uma estratégia para montar uma história ou moldar o que as pessoas iriam dizer, mas sim uma reunião para acalmar os servidores, que estavam se sentindo desamparados.
A demissão de Moretti
O governo Lula demitiu Alessandro Moretti da Abin em reação aos desdobramentos das investigações da PF sobre a Abin paralela da gestão Bolsonaro.
Relatório do PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), obtido por O Antagonista nesta terça, aponta possibilidade de “conluio” entre integrantes atuais da Abin e os investigados.
“A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, acrescenta a PF.
Mais dúvidas
Essa não é a primeira inconsistência nas apurações da Polícia Federal sobre a participação de pessoas ligadas ao governo de Jair Bolsonaro em uma trama para implementar um golpe de Estado.
Como mostramos, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) afirmou que uma foto adulterada baseou a operação da PF sobre o 8 de janeiro da qual foi alvo. A imagem foi editada pelo militante bolsonarista e pivô da ação, Carlos Victor de Carvalho, o CVC.
“Uma foto que mostrava que CVC estaria no 8 de janeiro, e que foi uma foto adulterada. Adulterada por ele próprio. Uma infantilidade, uma imaturidade, uma burrice da parte dele que nós descobrimos agora a pouco”, disse Jordy.
“Mas a burrice ainda não é punida no nosso ordenamento jurídico. A imaturidade não é punida”, acrescentou.
Na quinta, 14, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioriapara absolver o morador de rua preso por quase 11 meses em função da invasão das sedes dos três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, mesmo sem elementos que provassem a sua ligação com os atos de vandalismo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)