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O Antagonista

2023: o ano da depravação moral da esquerda radical

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Catarina Rochamonte
6 minutos de leitura 02.01.2024 18:55 comentários
Análise

2023: o ano da depravação moral da esquerda radical

O editorial do site britânico Spiked abriu o ano novo com uma dura crítica à esquerda assinada por Tom Slater: “2023 expôs a depravação moral da esquerda radical”.

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2023: o ano da depravação moral da esquerda radical
Reprodução/X

O editorial do site britânico Spiked abriu o ano novo com uma dura crítica à esquerda assinada por Tom Slater. Para o editor da revista eletrônica com foco em política, cultura e sociedade, “2023 expôs a depravação moral da esquerda radical”.

Slater começa seu artigo perguntando retoricamente: “O que significa ser radical, de esquerda, progressista?” e responde: “em 2023, significou arranjar desculpas para um antissemitismo genocida, recusando-se a acreditar em provas de violação em massa e negando o assassinato terrorista de crianças. Este foi o ano em que a brigada do ´lado certo da história´ explodiu para sempre a sua falsa superioridade moral”.

O editoral reveste-se de singular importância pelo fato de a revista Spiked ter surgido da revista do Partido Comunista Revolucionário, fundada em 1988 e rebatizada como Living Marxism (LM), em 1999. A LM tornou-se Spiked, após a falência da antecessora.

Há um consenso de que Spiked é uma revista libertária. Com posições originadas da esquerda anti-stalinista, ela hoje se opõe ao establishment político colocando-se, muitas vezes, do lado direito do espectro. Seus colaboradores são identificados ora como libertários de direita ora como libertário de esquerda.

No referido artigo, o autor admite ter pensado que, no dia 7 de outubro, os militantes de esquerda iriam reavaliar “os seus anos de apologia do Hamas – o seu apoio velado a estes maníacos que odeiam os judeus”, afinal, naquele dia, “foi-lhes mostrado, sem sombra de dúvida, que a carta fundadora genocida do Hamas não era apenas conversa fiada.”

Como o autor e nós sabemos, os militantes de extrema esquerda, longe de fazerem mea-culpa pelo apoio ao grupo terrorista, dobraram a aposta, alguns chegando ao cúmulo de comemorar o ataque cruel.

Nas redes sociais “os esquerdistas mais experientes começaram a culpar Israel por ter sido atacado e se recusaram a admitir que mulheres foram violadas. Foi uma culpabilização das vítimas numa escala geopolítica.” O artigo aponta a hipocrisia dos supostos anti-racistas e atifascistas:

“Estes supostos anti-racistas forneceram alegremente cobertura para a intolerância mais antiga do mundo. Muitos se envolveram abertamente nisso. Estes supostos antifascistas fecharam os olhos enquanto os protestos ´pró-Palestina´ transformavam as nossas ruas num esgoto a céu aberto de ódio aos judeus. Slogans genocidas foram cantados. Suásticas foram brandidas. Os crimes de ódio dispararam. E eles simplesmente não se importaram”.

O editorial comenta ainda a aliança entre esquerdistas e islamistas radicais (assunto que abordamos no ensaio “Islamo-esquerdismo: a nova face do ódio aos judeus). Segundo Slater “a esquerda confundiu anti-imperialismo com anti-ocidentalismo. Os revolucionários ocidentais fracassados começaram a terceirizar a agência radical para os islamistas – transformando estes teocratas que odeiam os judeus, são misóginos e atacam os gays em combatentes pela liberdade.”

O autor lembra aos esquerdistas que Leon Trotsky esteve entre os críticos mais vigorosos do antissemitismo stalinista e nazi e que “não muito tempo atrás, ainda era inteiramente legítimo estar à esquerda e opor-se implacavelmente ao islamismo e ao fascismo”. Hoje, porém, “todos os grandes movimentos nominalmente de esquerda – desde o Occupy Wall Street às manifestações anti-Guerra do Iraque, à Marcha das Mulheres anti-Trump e ao Partido Trabalhista de Corbyn – foram marcados por escândalos de antissemitismo ou associações duvidosas com antissemitas de linha dura”.

Obviamente, nem todos os esquerdistas são antissemitas, mas, explica Slater, “os esquerdistas antissemitas estão caindo sob o feitiço de jihadistas e absorvendo tendências intelectuais malignas apodrecidas durante décadas, em grande parte incontestadas, na esquerda radical”.

Não é nosso interesse reproduzir um discurso de demonização da esquerda. Pelo contrário, ao trazermos aqui as críticas ao posicionamento da esquerda mais radical em relação a tão graves problemas, o que almejamos é apontar para a necessidade de uma esquerda mais moderada, mais lúcida, mais coerente e menos hipócrita.

Infelizmente, porém, a análise de Slater é bastante adequada à realidade da esquerda brasileira que, quase na sua totalidade, está de mãos dadas com antissemitas do naipe do militante lulista Breno Altman, como bem destacou Duda Teixeira, em texto de 02 de janeiro, da Crusoé, intitulado “A espiral antissemita da presidente do PT.”

Esse posicionamento da esquerda, agora majoritariamente anti-Israel e antissemita, é nada menos que uma traição aos judeus, se nos lembramos do papel fundamental da esquerda tanto na fundação do estado de Israel quanto na sua manutenção nos seus primeiros decênios.

O que sobrou dessa esquerda, porém, foi um “ ódio perturbado por Israel – e a sua tendência paternalista de tratar os muçulmanos como os filhos violentos e ignorantes dos assuntos mundiais – significa que agora tratam os pogroms antissemitas como a voz dos que não são ouvidos”.

Para Slater, portanto, 2023 representa “uma espécie de morte intelectual e moral para a esquerda”. É interessante ainda a sua análise de que “à medida que a esquerda se distanciou dos seus próprios fundamentos, avançando para a academia e para os meios de comunicação social e longe da influência civilizadora das pessoas comuns, ela passou a abraçar algumas ideias verdadeiramente depravadas”.

O artigo de Tom Slater tem o mesmo tom crítico de artigos que publicamos aqui em O Antagonista e na Crusoé, desde o início da guerra Israel-Hamas, no esforço justamente de expormos a hipocrisia da esquerda anti-Israel. Não há no artigo nada que não tenhamos já apontado, mas a eloquência do estilo de Slater deixa as coisas ainda mais claras e, por isso, concluímos nosso texto com mais uma citação:

“A adoção pela esquerda de um identitarismo woke (woke racial identity politics) apenas substituiu o antigo racismo, que tratava os judeus como intrigantes inferiores genéticos, por um novo racismo, que trata os judeus como os carniceiros hiper-brancos dos palestinos. Isto retira responsabilidade ao Hamas e recusa aos judeus o estatuto de vítimas, mesmo quando o primeiro está travando um ataque apocalíptico contra o segundo”.

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