Orlando Tosetto na Crusoé: “Para que serve um Ministério”
Como toda pessoa sã, eu ignoro a serventia e o que faz a maioria dos Ministérios nacionais; no máximo, tento deduzir o que fazem a partir dos seus nomes. Assim, deduzo que o Ministério da Educação e Cultura avalie ou desenvolva os nossos modos à mesa e vigie as nossas leituras; que o do Trabalho nos veja trabalhar; que o da Agricultura vá ver se as plantações andam bem..
Como toda pessoa sã, eu ignoro a serventia e o que faz a maioria dos Ministérios nacionais; no máximo, tento deduzir o que fazem a partir dos seus nomes. Assim, deduzo que o Ministério da Educação e Cultura avalie ou desenvolva os nossos modos à mesa e vigie as nossas leituras; que o do Trabalho nos veja trabalhar; que o da Agricultura vá ver se as plantações andam bem, se está chovendo a contento, se a fabricação de enxadas é suficiente, etc.; que o da Aeronáutica fique de olho nos aviões e, quem sabe, nos balões e na passarada; e assim por diante. E, como toda pessoa sã, me pergunto se é preciso mesmo que haja Ministérios para cuidar dessas coisas todas – se umas Secretarias ou Departamentos não dariam conta do recado até com sobras. Tudo indica que não; mas os sãos somos assim, nos equivocamos muito com esse tipo de assunto.
Ora, eu, é claro, quero melhorar, quero me equivocar menos, ainda que à custa de uma parcela da minha sanidade. Daí que, curioso e com a mente aberta, fui procurar saber o que faz e para que serve um Ministério. Escolhi o da Justiça, por duas razões. A primeira é que ele parece especialmente inútil. Não porque não haja Justiça neste país; veja bem, não é nada disso – é que o país tem um Poder Judiciário, que é quem administra a Justiça, e um Poder Legislativo, que é quem fabrica as leis que o Judiciário aplica. Onde, nesse arranjo, entra um Ministério é um mistério. E a segunda é o cartaz imenso que seu grandioso ministro vem tendo, cotado que está – que digo, cotado? Indicado e já de antemão aceito – para um lugar entre os Onze Ases que, esses sim, velam de cima pela Justiça como onze imponentes camirangas – como se fossem onze Ministérios.
Na minha rápida pesquisa, se é que cabe chamar uns cliques aqui e ali de pesquisa, descobri que o Ministério da Justiça cuida, na verdade, não da Justiça em si, a qual, como dito, forma poder à parte, mas sim de, oh, de coisas justas. De coisas que tem que ter para que o país possa ser chamado, como Aristides, de Justo. De coisas que é justo que existam. Entendi isso quando vi que estão lá, sob as asas, ou, como dizem os juristas, sob a égide do Ministério, o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, FDD, o Comitê Nacional para os Refugiados, Conare, o Conselho Nacional de Política Indigenista, CNPI, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade.
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