Há pessoas que têm ânsia e necessidade incontornáveis de descer no pântano para avaliar qual sujeira é melhor ou menos pior que a outra, à luz da sua “matriz moral” individual (como chama Jonathan Haidt), onde o repúdio à corrupção é maior que ao golpismo, ou o repúdio ao golpismo é maior que à corrupção.
Quando estão à direita do PT, geralmente omitem o histórico de funcionalismo fantasma dos Bolsonaro em gabinetes e que o golpe de Estado só não foi levado adiante porque os então comandantes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a aderir ao plano apresentado pelo então presidente e defendido por outros membros de seu governo.
Quando estão à esquerda, geralmente omitem que mensalão e petrolão fraudavam a democracia, com a compra de apoio parlamentar mediante pagamento direto e indireto de propina em esquemas de suborno.
De ambos os lados, omitem que a impunidade por crimes de colarinho branco foi alcançada em atuação conjunta de petistas e bolsonaristas contra a Lava Jato e o combate à corrupção, e que esses dois grupos seguem votando juntos no Congresso por maior blindagem e liberação de dinheiro público para eles próprios.
Todos têm liberdade, claro, de fazer avaliações de “mal menor”, como se o “menor” não fosse ainda um “mal” e como se a vida inteira se limitasse à eleição de 2018, ou de 2022, e obrigasse cada um a repetir todos os dias a escolha feita em 1 minuto, no botão da urna.
Mas é sintomática a incapacidade da maioria dessas pessoas de perceber o quanto é exatamente essa ânsia, essa necessidade, que as impede de notar que um lado alimenta o outro, ajuda o outro, reforça o outro, eventualmente blinda o outro, prendendo o país à retroalimentação suicida, à conturbação permanente e ao subdesenvolvimento.
Felipe Moura Brasil, Duda Teixeira e Ricardo Kertzman comentam: