O cancelamento de Tiago Leifert e o retorno da Choquei
Como ele bem demonstrou, o debate racial é sério demais para ser reduzido a um espetáculo de cancelamentos orquestrados.
Quando a lacração entra por uma porta, os direitos das minorias são jogados pela janela. Esse é o movimento exato que vemos agora: um ambiente onde, por puro interesse econômico, perfis grandes fazem acusações de racismo orquestradas e infundadas. Transformaram um tema sério – o combate ao racismo – em um espetáculo de marketing e concorrência desleal. Em vez de avançarmos, regredimos.
Vamos aos fatos. Durante o Troféu Bola de Ouro, que anualmente gera polêmicas sobre a escolha do melhor jogador, muitos esperavam que o prêmio fosse para Vini Júnior. Porém, o prêmio foi para outro jogador. Tiago Leifert fez uma live comentando que, em sua visão, Vini e o Real Madrid deveriam ter comparecido, mesmo sem o troféu, para colher os louros da popularidade. Era uma oportunidade de mostrar que o público estava com eles, independentemente da crítica oficial.
O que se seguiu foi um ataque coordenado. O Choquei, que conhecemos de outros carnavais, cortou um trecho da fala de Leifert e jogaram nas redes com um título dúbio. Em segundos, a narrativa estava posta: Leifert era racista. E como sempre, a sequência foi bem ensaiada. Perfis como “Fofoquei,” “Mundo da Bola” e outros do mesmo nicho replicaram a postagem quase simultaneamente, gerando uma onda de cancelamento. O roteiro já é conhecido. No meio do caos, a Choquei, antes cancelada por sua falta de escrúpulos e distorções, voltou com tudo.
A resposta de Leifert foi contundente. Ele chamou uma influencer que havia feito um vídeo sobre ele para debater em uma live. O vídeo já tinha viralizado e sido compartilhado por diversos influencers. Perguntou a ela se tinha assistido ao conteúdo antes de julgá-lo. Não, ela não tinha. Tampouco entendia o funcionamento do Bola de Ouro. E assim, sem conhecimento sobre o evento e sem assistir à live, essa influencer se sentiu capacitada para atacar alguém, repetindo os clichês vazios do identitarismo.
Essa jovem influencer é uma mulher negra e inteligente, alguém que claramente quer ocupar o espaço que merece. Mas, ao ser tragada pelo movimento woke e pela narrativa do politicamente correto, acreditou que sua luta deveria se resumir a atacar e cancelar os outros. Para muitos dessa nova geração, lutar é consumir e cancelar, acreditando que a inclusão se dá por likes e publis. Nalive, ela mencionou que queria “mais publis.” Chegou a levar uma garrafa de Coca-Cola e pedir diretamente patrocínio. Esse é o novo retrato de uma luta que se tornou produto de mercado.
Essa jovem foi convencida de que pode crescer usando 4 conceitos: lugar de fala, vitimização, cancelamento e inclusão pelo consumo. E isso é perigoso. Está aí o verdadeiro problema do identitarismo de mercado: ele convence minorias de que não precisam se preparar ou entender os assuntos, desde que repitam certos slogans. É um sistema perverso, que preserva a desigualdade ao privar essas pessoas de uma formação real. A ilusão é clara: se acreditarem que não precisam se esforçar, nunca serão ameaça para os filhos da elite que posam de militantes nas redes.
Então, qual é a saída? Para minorias e pessoas de origem humilde, a única resposta é esta: preparem-se. Tenham contato com a realidade, informem-se antes de falar, dominem os temas, e recusem a ideia de que “lugar de fala” é uma carta branca para descartar o esforço e o conhecimento. O movimento woke, movido pelo mercado, não quer inclusão, quer seguidores dóceis, que sirvam de plataforma para suas campanhas. Não caiam nesse jogo.
Como Leifert bem demonstrou, o debate racial é sério demais para ser reduzido a um espetáculo de cancelamentos orquestrados. Para aqueles que realmente querem fazer a diferença, o caminho é um só: conhecimento, trabalho e diálogo.
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