Aerolula: como uma questão técnica virou um espetáculo emocional
Lula dramatiza contando a experiência da pane no avião presidencial e não vemos a palavra dos técnicos com o mesmo destaque
O debate sobre o AeroLula 2, ou “AeroJanja”, como alguns preferem chamar, já perdeu completamente a seriedade. O que começou como uma discussão técnica rapidamente se transformou em um espetáculo emocional, uma característica cada vez mais comum no cenário político brasileiro. O problema não é a troca do avião presidencial em si, mas como o governo usa esse tema para manipular a opinião pública.
Antigamente, quando um governo cogitava comprar um novo avião, o debate girava em torno de fatos. A decisão era justificada, não pela emoção ou pela comoção pública, mas por documentos, dados técnicos, e explicações claras de especialistas. A imprensa cobrava provas, a população exigia clareza, e o governo precisava responder. Era uma questão de transparência e responsabilidade com o dinheiro público. E isso ocorreu no primeiro governo de Lula.
Hoje, o que vemos é uma manobra emocional. Lula dramatiza contando a experiência da pane no avião presidencial e não vemos a palavra dos técnicos com o mesmo destaque. É isso, basta essa performance para transformar uma questão técnica em um apelo emocional. De repente, a necessidade de trocar o avião é apresentada como uma emergência nacional, e qualquer tentativa de debater os fatos é sufocada pelo ruído dos discursos apaixonados.
O mais preocupante é que esse espetáculo funciona. Funciona porque a massa de manobra atual não é composta pelos que desconhecem, mas sim pelos que acham que sabem. São os emocionados que se consideram esclarecidos, que têm uma formação acadêmica ou algum sucesso profissional e, por isso, acreditam que entendem de tudo, de política a aviação. Eles assumem que dominam um assunto complexo só porque dominam outros campos. Esses “especialistas de poltrona” são os alvos perfeitos para manipulações emocionais.
Lula, que antes precisava provar a necessidade do AeroLula com fatos, agora surfa tranquilamente na onda da comoção pública. Ele sabe que, num debate emocional, qualquer crítica pode ser rebatida com um simples “quase morri.” E essa tática não é exclusiva dele, é uma prática que se espalhou por toda a política, onde argumentos factuais deram lugar a narrativas dramáticas.
O Brasil está se tornando um país de emocionados, onde política se assemelha mais a um reality show do que a um espaço de discussões racionais. Enquanto a população se divide entre gritos de apoio e protesto, a verdade vai ficando em segundo plano. No fim, o mais provável é que comprem o tal “AeroJanja”, e nós, como sempre, é que vamos pagar a conta.
E assim, o ciclo continua. O debate que deveria ser sobre a real necessidade de um novo avião é reduzido a um jogo de emoções, onde fatos são irrelevantes. E isso vale para a turma a favor e também para a turma contra. Se continuarmos a deixar que questões sérias sejam discutidas dessa forma, estaremos entregando de bandeja tudo o que os políticos querem: uma sociedade facilmente manipulável, dividida, e sem qualquer demanda por transparência.
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