Boulos defendia cadeia para Bolsonaro por rachadinha, mas aliviou Janones
Por que Guilherme Boulos, em pleno ano eleitoral, decide passar pano para uma acusação de rachadinha contra um colega?
Guilherme Boulos aliviou para Janones no Conselho de Ética pela acusação de rachadinha. Agora está tudo arquivado. O deputado não negou que os fatos ocorreram, não disse que a acusação é infundada. Disse apenas que o ocorrido foi antes do mandato e, portanto, não merecia punição.
Todo o caso começa com áudios vazados pela imprensa. Foram gravados pela própria equipe de André Janones. Nas conversas, fica bem claro que ele já estava no exercício do mandato. Reclamava, por exemplo, de falhas de assessores que prejudicavam para falar no plenário e apresentar projetos.
Em dezembro do ano passado, quando o processo foi aberto no Conselho de Ética, eu avisei que nada aconteceria. Você pode conferir no Narrativas Antagonista #79, “Janones cassado amanhã?”.
Não sou vidente, tenho experiência na cobertura política e também já fui assessora parlamentar. O caso ali não tinha grande apelo popular. Podemos pensar que sim, mas vamos comparar com o Mensalão. Nem naquela época cassaram todos, os políticos se protegem. No caso de Janones, foi traído pela própria equipe e acusado de um crime que muitos de seus pares cometem na surdina.
O apelo popular, no caso, veio só da oposição. Dentro do campo político ao qual ele pertence, não houve o menor constrangimento. Veja o caso de Aécio Neves, por exemplo. Teve constrangimento e pedido de cassação até de colega de partido. Nem assim levaram adiante.
Reclamamos muito dos políticos com toda razão. Só que eles têm seus mandatos renovados periodicamente. Não fazem nada que sacrifique um novo mandato. Podem tratar o eleitorado apenas da forma que o eleitorado admite ser tratado.
Por que Guilherme Boulos, em pleno ano eleitoral, decide passar pano para uma acusação de rachadinha contra um colega? Porque ele pode, simples assim. Não vai perder um único voto para a prefeitura de São Paulo por ter feito isso.
Muita gente de direita vai argumentar que a esquerda é assim mesmo, leniente com corruptos e corrupção. Ocorre que Jair Bolsonaro e seus filhos também não perderam um único voto pelas acusações de rachadinha. E olha que, para levar a situação como levaram, enterraram a Lava Toga, acabaram com a Lava Jato e mantiveram relações das mais amistosas com figurões do Judiciário.
Corrupção, no Brasil, é problema só quando o adversário faz. Daí há um clamor gigantesco. As pessoas não demonstram a mesma indignação quando vem do político em que elas votaram. O grupo se divide entre os que ficam meio frustrados e os que arrumam uma desculpa mirabolante. Os da desculpa são muito mais barulhentos e acabam calando os demais. O resultado é que o político jamais será cobrado por quem dá voto a ele e todo político já sabe muito bem disso. Quem reclama já não ia votar nele mesmo, então tanto faz.
Nós só teremos uma postura diferente dos políticos se tivermos uma postura diferente do eleitorado. O problema aqui não é o pessoal do voto, é entre os devotos mesmo. São eles que arrumam desculpa para tudo e, de forma barulhenta, constrangem em grupos organizados quem quer que ouse criticar seu santo político de devoção.
“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons”, dizia Martin Luther King. Temos uma maioria em silêncio e uma minoria de devotos barulhentos e virulentos. Isso tem garantido impunidade ao pessoal da rachadinha e quem mais facilite a vida deles.
É triste admitir mas, se realmente honestidade fosse prioridade, não veríamos tanta gente em silêncio. Seria impossível um político se reeleger depois de uma rachadinha ou de passar pano para ela. Falam muito em reforma política. Talvez seja melhor uma reforma moral.
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