Freiras rebeldes excomungadas na Espanha Freiras rebeldes excomungadas na Espanha
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Freiras rebeldes excomungadas na Espanha

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Alexandre Borges
7 minutos de leitura 26.06.2024 12:04 comentários
Sociedade

Freiras rebeldes excomungadas na Espanha

Em um comunicado de imprensa emitido em 22 de junho, a arquidiocese de Burgos ressaltou que a excomunhão é uma medida educativa, destinada a promover a reflexão e a conversão pessoal

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Freiras rebeldes excomungadas na Espanha
Bispo Mario Iceta

Dez irmãs Clarissas do Mosteiro de Belorado, na Espanha, foram excomungadas e expulsas da Igreja Católica. A decisão, anunciada pelo arcebispo de Burgos, Mario Iceta, baseou-se no crime de cisma cometido pelas freiras.

As irmãs Clarissas, lideradas pela madre abadessa Irmã Isabel de la Trinidad, romperam com a Igreja Católica e publicaram um manifesto nas redes sociais em 13 de maio. No documento de 70 páginas, as freiras apresentam suas razões para a separação.

As irmãs seguem o bispo excomungado Pablo de Rojas. Elas alegaram que estavam abandonando a “Igreja Conciliar” pós-Vaticano II para se juntarem à “Igreja Católica”, reconhecendo o Papa Pio XII como o último Papa válido.

Pablo de Rojas, fundador da Pia União de São Paulo Apóstolo, afirma ser membro do “sedevacantismo”, uma corrente que considera hereges todos os papas que sucederam a Pio XII (1939-1958), razão pela qual acredita que atualmente não há um sumo pontífice válido. Foi excomungado da Igreja Católica em 2019 pelo arcebispo de Burgos.

Conforme o Cânon 751 do Código de Direito Canônico, a recusa de submissão ao Papa ou a quebra de comunhão com os membros da Igreja é considerada cisma, punível com a excomunhão. Além de serem excomungadas, as freiras perderam o direito de residir no mosteiro e de usar o hábito religioso.

Em um comunicado de imprensa emitido em 22 de junho, a arquidiocese de Burgos ressaltou que a excomunhão é uma medida educativa, destinada a promover a reflexão e a conversão pessoal. “A Igreja sempre mostra sua profunda compaixão e, como uma mãe, está pronta para receber seus filhos que, como o filho pródigo, confiam na misericórdia de Deus e iniciam o caminho de volta para a casa do Pai”, explicou o comunicado.

O Mito da Inquisição Espanhola

A história do catolicismo na Espanha é vasta e complexa, marcada por eventos significativos que moldaram o país e frequentemente envolta em mitos e mal-entendidos. Autores como Felipe Aquino, María Elvira Roca Barea e Rodney Stark oferecem perspectivas esclarecedoras sobre esses temas, cada um com uma bagagem acadêmica e profissional que lhes confere grande credibilidade.

Felipe Aquino é um renomado apologeta católico brasileiro, com doutorado em Engenharia Mecânica pela UNESP, e autor de mais de 70 livros sobre temas católicos. Ele leciona História da Igreja no Instituto de Teologia Bento XVI e é conhecido por seu trabalho na Rádio e TV Canção Nova. Aquino foi condecorado com o título de Cavaleiro de São Gregório Magno pelo Papa Bento XVI em 2012, o que reforça sua autoridade em questões de doutrina católica.

María Elvira Roca Barea, nascida em 1966, é uma acadêmica e escritora espanhola com doutorado em Filologia Clássica pela Universidade de Málaga. Ela trabalhou para o Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha e lecionou na Universidade de Harvard. Autora do best-seller “Imperiofobia y leyenda negra”, Roca Barea se destaca pela desconstrução da “Lenda Negra” espanhola, recebendo a Medalha da Andaluzia em 2018 por suas contribuições acadêmicas.

Rodney Stark, um respeitado sociólogo e historiador, é autor de “Bearing False Witness: Debunking Centuries of Anti-Catholic History”. Stark argumenta que a Inquisição Espanhola foi muito menos sangrenta e opressiva do que se acredita popularmente, destacando que muitos mitos foram propagados por propaganda protestante e iluminista.

Catolicismo, Inquisição e Espanha

O cristianismo chegou à Península Ibérica nos primeiros séculos da era cristã, possivelmente trazido por comerciantes e soldados romanos. Durante a Idade Média, a península foi um campo de batalha entre cristãos e muçulmanos, culminando na Reconquista, que terminou em 1492 com a unificação da Espanha sob os Reis Católicos, Fernando e Isabel. Esta vitória não só consolidou o poder político dos reis, mas também reafirmou a identidade católica do país.

A Inquisição Espanhola foi estabelecida em 1478 pelos Reis Católicos com o objetivo de manter a ortodoxia no recém-unificado reino. Inicialmente, focava-se nos recém-convertidos, judeus e muçulmanos que se diziam cristãos, mas que eram suspeitos de manter secretamente suas antigas práticas religiosas. A Inquisição foi uma resposta ao contexto da época, onde a ortodoxia religiosa era vista como essencial para a estabilidade política e social do reino.

Autores como Felipe Aquino, María Elvira Roca Barea e Rodney Stark argumentam que a Inquisição Espanhola foi alvo de uma “lenda negra”, uma campanha de difamação criada por nações protestantes e iluministas para desacreditar a Espanha e a Igreja Católica.

  1. Escala e Impacto: A Inquisição não foi tão abrangente quanto comumente se acredita. Roca Barea argumenta que era uma “pequena instituição” sem capacidade de influenciar decisivamente a vida cotidiana nos países católicos.
  2. Métodos e Justiça: Embora a tortura fosse utilizada, era regulamentada e menos frequente do que em tribunais seculares da época. Stark destaca que a Inquisição tinha procedimentos mais ordenados e justos que muitos tribunais seculares.
  3. Número de Execuções: Estudos recentes sugerem que o número de pessoas executadas pela Inquisição foi muito menor do que se pensava anteriormente. Aquino cita estimativas indicando que apenas 1,8% dos investigados foram condenados à morte.

Propaganda Anticatólica e Guerras Religiosas

A Reforma Protestante e as subsequentes guerras religiosas criaram um ambiente de intensa rivalidade entre católicos e protestantes. Nações protestantes, como a Inglaterra (anglicanos) e estados calvinistas, usaram a propaganda para desacreditar a Espanha, o maior defensor do catolicismo na época. Essa “lenda negra” era uma ferramenta para justificar suas próprias ações e demonizar o inimigo católico.

Felipe Aquino, María Elvira Roca Barea e Rodney Stark, entre outros intelectuais e especialistas, defendem estudos mais isentos da história da Inquisição, buscando uma visão mais equilibrada e baseada em evidências históricas, em vez de propaganda ou mitos. Embora reconheçam os abusos cometidos, argumentam que foram menos extensos e severos do que comumente se acredita.

Sobre os Autores Citados

Felipe Aquino
Felipe Aquino é um apologeta católico brasileiro, com doutorado em Engenharia Mecânica pela UNESP e autor de mais de 70 livros sobre temas católicos. Ele leciona História da Igreja no Instituto de Teologia Bento XVI e é conhecido por seu trabalho na Rádio e TV Canção Nova. Aquino foi condecorado com o título de Cavaleiro de São Gregório Magno pelo Papa Bento XVI em 2012, destacando sua autoridade em questões de doutrina católica.

María Elvira Roca Barea
María Elvira Roca Barea, nascida em 1966, é uma acadêmica e escritora espanhola com doutorado em Filologia Clássica pela Universidade de Málaga. Trabalhou para o Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha e lecionou na Universidade de Harvard. Autora do best-seller “Imperiofobia y leyenda negra”, Roca Barea recebeu a Medalha da Andaluzia em 2018 por suas contribuições acadêmicas.

Rodney Stark
Rodney Stark é um sociólogo e historiador americano muito popular nas últimas décadas, autor do best-seller “Bearing False Witness: Debunking Centuries of Anti-Catholic History”, entre outras obras populares sobre história e religião.

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