Crusoé: Como a ignorância se torna certeza
Publicado originalmente em 1999, o trabalho ganhou destaque por mostrar como pessoas com pouco conhecimento superestimam suas habilidades, enquanto especialistas tendem a subestimá-las
Quanto menos alguém entende de um assunto, maior a chance de falar com absoluta convicção. Esse comportamento, estudado pelos psicólogos David Dunning e Justin Kruger, ficou conhecido como o efeito Dunning-Kruger e é amplamente respeitado na academia.
Publicado originalmente em 1999, o trabalho ganhou destaque por mostrar como pessoas com pouco conhecimento superestimam suas habilidades, enquanto especialistas tendem a subestimá-las. Essa inversão, amplificada nas redes sociais, molda debates públicos em todos os lados do espectro político.
Para muitos progressistas, é fácil apontar esse fenômeno como um problema exclusivo da direita populista, como sugerido pelo filme Don’t Look Up, da Netflix. Na sátira, líderes políticos ignoram cientistas e rejeitam evidências óbvias, escancarando a arrogância de quem prefere certezas convenientes à verdade inconveniente. Só que a idiotice arrogante não é exclusividade de um lado. Ela é democraticamente distribuída e frequentemente surge também entre progressistas quando narrativas politicamente corretas desafiam até mesmo os limites da biologia.
Um exemplo recente está no esporte, onde homens biológicos que se identificam como mulheres participam de competições femininas, inclusive em modalidades de contato como boxe. Muitos esquerdistas preferem ignorar o óbvio e insistir que “não há diferenças” entre homens e mulheres. A defesa apaixonada de ideias como “homem engravida” também reforça como certezas radicais podem eclipsar o bom senso, gerando divisões e polarizações desnecessárias.
Enquanto isso, na direita populista, o movimento antivacinas prospera como exemplo clássico do efeito Dunning-Kruger. No Brasil, Jair Bolsonaro, presidente que ofereceu cloroquina para uma ema durante a pandemia, recebeu no Planalto, em 2021, Beatrix von Storch, neta de um ministro nazista e uma das principais líderes antivacinas da Alemanha. A reunião simbolizou a desconexão entre ciência e poder, enquanto teorias conspiratórias sobre imunizantes se espalhavam, atrasando o combate à doença que matou quase 700 mil brasileiros em menos de dois anos.
O trabalho de Dunning e Kruger é essencial para entender por que essas certezas frágeis encontram tanto espaço. Ele revela como o excesso de confiança, somado à falta de…
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