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Você não é gay o bastante

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Rodolfo Borges
5 minutos de leitura 20.07.2023 17:29 comentários
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Você não é gay o bastante

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, anunciou hoje (20) que acionou o Ministério Público em resposta ao ataque homofóbico do ex-deputado Jean Wyllys. Leite lembrou que já havia feito o mesmo por ocasião de ofensas parecidas de...

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Você não é gay o bastante
Foto: Maurício Tonetto / Secom

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB, foto), anunciou hoje (20) que acionou o Ministério Público em resposta ao ataque homofóbico do ex-deputado Jean Wyllys. Leite lembrou que já havia feito o mesmo por ocasião de ofensas parecidas de Jair Bolsonaro e Roberto Jefferson e destacou que “não interessa se é da direita ou da esquerda, a cor da bandeira que carrega, o que importa é que homofobia, preconceito e discriminação não podem ser tolerados”. O destaque não é trivial.

“Que governadores heteros de direita e extrema-direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay…?”, escreveu Wyllys para criticar a decisão de Leite de manter escolas cívico-militares estaduais. Já era ruim o bastante, mas ele completou: “Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então… Tá feio, bee!”. De forma mais direta, o ex-deputado disse que o governador do RS não é gay o bastante, uma versão progressista e atualizada para o clássico “você não é homem o bastante”.

Wyllys voltou ao Brasil após anos de autoexílio. Os termos de sua decisão de deixar o país durante o governo Bolsonaro não são discutíveis, cada um sabe onde os próprios calos apertam. É de se celebrar, portanto, que ele se sinta hoje seguro o bastante para morar no Brasil. Difícil é entender como seu comportamento bélico contribuirá para manter essa sensação de segurança.

Bem ou mal, o ex-deputado se tornou uma referência na disputa ideológica nacional. Rivalizou por anos com o então colega de Câmara Jair, em quem chegou a cuspir em plenário durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff. A relação entre os dois foi tão intensa que Wyllys costuma ser apontado como um dos principais responsáveis pela ascensão do adversário à presidência da República.

O ex-participante do Big Brother Brasil pode falar o que quiser, naturalmente. Ou podia, até começar a circular a informação de que faria parte do governo Lula. O cargo na Secom de Paulo Pimenta ainda não foi ocupado oficialmente — e parece mais distante a cada nova polêmica gratuita de Wyllys. Até que a perspectiva de posse se encerre, contudo, o cargo existe politicamente, e o ex-deputado precisa decidir se presta um melhor serviço ao país participando formalmente da comunicação do governo, com o devido decoro que a posição cobra, ou alimentando o quebra-pau ideológico do país.

Independente da coloração política, os moralistas têm seu papel na República. É a partir de suas críticas e provocações que a sociedade toca em assuntos delicados, que, por mais malucos que possam parecer, têm alguma relevância, desde que bem conduzidos. Os responsáveis por essa condução estão em posições para as quais foram eleitos ou indicados. Ao assumir as ferramentas do Estado para conduzir a nação, perde-se, contudo, a liberdade para provocar. Que o diga o futuro chefe de Wyllys na Secom, muito menos apimentado do que no tempo de deputado.

Além de atacar Leite, Wyllys disparou nos últimos dias que “quem votou, apoiou, financiou ou associou-se a Bolsonaro em 2018 estava do lado dos assassinos de Marielle Franco”, acrescentando que não respeita nem perdoa “essa gente” e que só quem pode perdoar é Deus — não mencionou que também seria Deus, nesse caso, quem pode condenar.

Wyllys se tornou o maior representante no Brasil de uma esquerda que se acha melhor do que os outros, mas que nem sequer soa melhor. Uma esquerda que prega o amor com ódio, que defende a democracia com táticas antidemocráticas e que cobra respeito de forma desrespeitosa. Uma esquerda, enfim, que espelha a direita que alega combater, acusada de defender a família em meio a amantes, de combater a corrupção com ilícitos e de pregar a paz com armas.

Confrontado por conta da posição que está (estava?) prestes a ocupar, o ex-deputado disse em seu perfil no Twitter que sua “honestidade intelectual não está à venda, muito menos por cargo no governo”. “Quem me convidou pra este sabe quem sou e como sou e atuo. E deve ter me convidado por isto. E não para me silenciar nem me fazer capitular ao fascismo”, completou. De fato, a julgar pelo comportamento do presidente da República, Wyllys não está exatamente destoando do discurso oficial. Faz parte do seu show, mas não exatamente da solução dos problemas do país.

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Rodolfo Borges

Rodolfo Borges é jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou em veículos como Correio Braziliense, Istoé Dinheiro, portal R7 e El País Brasil.

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