Você foi o garçom no jantar que comemorou o acordão
O jantar comemorativo do acordão costurado pelo ex-presidente Michel Temer, que conseguiu mais uma vez manter isso aí, viu, teve como anfitrião o senhor Naji Nahas, que quebrou a Bolsa do Rio de Janeiro em 1989, acusado de comandar um esquema especulativo que usava mais de 100 laranjas para inflar os preços de ações que eram do seu interesse. O americano Bernard Madoff morreu na cadeia, com o nome enxovalhado depois que a sua bilionária pirâmide financeira desabou...
O jantar comemorativo do acordão costurado pelo ex-presidente Michel Temer, que conseguiu mais uma vez manter isso aí, viu, teve como anfitrião o senhor Naji Nahas, que quebrou a Bolsa do Rio de Janeiro em 1989, acusado de comandar um esquema especulativo que usava mais de 100 laranjas para inflar os preços de ações que eram do seu interesse. O americano Bernard Madoff morreu na cadeia, com o nome enxovalhado depois que a sua bilionária pirâmide financeira desabou; o libanês-brasileiro Naji Nahas será enterrado em túmulo esplêndido, pranteado por poderosos brasileiros que com ele dividiram mesa para salvar o Brasil da honestidade e da decência.
Engana-se quem pensa que foi Jair Bolsonaro que foi feito de bobo no jantar que teve como sobremesa uma imitação do presidente da República, mais uma, feita por um jovem humorista, filho de um velho de guerra. Os brasileiros é que, outra vez, foram feitos de bobos: o acordão que salvou a pele do atual presidente da República, a pretexto de nos preservar de uma crise institucional, como se crise já não houvesse, prolonga a tragédia de um país que hoje tem renda per capita menor do que a da República Dominicana, terá perdido 600 mil vidas por causa da pandemia e conta com uma massa de desempregados e miseráveis jamais vista. Prolonga porque, para além de continuarmos a ter de suportar um energúmeno no Palácio do Planalto, a permanência de Jair Bolsonaro abre uma autoestrada para Lula ser eleito presidente da República em 2022, enquanto João Doria rebola na avenida Paulista, para meia dúzia de gatos pingados que se acham muito politizados ao chamar Bolsonaro de “corno”.
Com Lula, se tudo der certo, teremos um crescimento medíocre, numa casa minha vida que não tinha teto, não tinha nada, com crediários a perder de vista e um economista como Marcio Pochmann no comando do espetáculo. O sujeito quer reprisar o Brasil de “projetos grandiosos”, que nunca teve final feliz, e acha que o país tem de conquistar o “espaço sideral” para sair do atoleiro. Ele disse isto ontem, em entrevista ao UOL: “Brasil não tem GPS. Como podemos dizer que Brasil é país autônomo quanto todo o seu sistema de informação e comunicação vinculado ao espaço sideral, portanto à internet, depende de empresas que não são brasileiras?”. Estaremos perdidos também no espaço, depois de furarmos o teto com fogos de artifício.
A tragédia brasileira já está com a próxima temporada contratada, e a outra, e a outra. Quem ganha com ela é esse tipo de gente que se reuniu na casa do probo Naji Nahas, para festejar o acordão. Gente que quer o povo brasileiro apenas uniformizado de garçom, para lhe servir vinhos de 30 mil reais a garrafa — escolhidos por um especulador e pagos sempre pelo garçom.
Você é o garçom.
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