A Venezuela começa a vislumbrar uma esperança de mudança em sua complexa situação política, algo que há alguns anos parecia inalcançável. O atual cenário é bem diferente daquele em que Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, se autoproclamou presidente interino do país. Naquela época, Guaidó foi reconhecido por diversas nações, incluindo os Estados Unidos e o Brasil, mas, na prática, ele não tinha poder real dentro da Venezuela. Era uma liderança decorativa, enquanto o verdadeiro controle permanecia nas mãos do ditador Nicolás Maduro.
Hoje, o panorama é outro. A sociedade venezuelana, que antes parecia resignada, agora se mobiliza com vigor. A grande diferença é a existência de provas incontestáveis das fraudes eleitorais de Maduro, o que escancarou para a comunidade internacional as práticas autoritárias do regime. Não que as fraudes sejam novidade ali: as eleições de 2012, as primeiras em que Maduro concorreu após a morte de Hugo Chávez, já foram amplamente questionadas. Naquela ocasião, Maduro prometeu uma recontagem pública dos votos em uma reunião da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), algo que nunca cumpriu.
Hoje, a situação na Venezuela é marcada por uma convulsão social que afeta não apenas o país, mas também seus vizinhos. Aproximadamente 20% da população venezuelana deixou o país, um indicativo claro do desespero das pessoas. A repressão brutal do governo não tem sido suficiente para conter os protestos, e o descontentamento cresce à medida que o povo percebe a falta de legitimidade do regime.
Outro ponto crucial é a fragilidade interna de Maduro. Ao contrário de Chávez, que tinha o controle firme das Forças Armadas por sua origem militar, Maduro não desfruta da mesma lealdade. As Forças Armadas o apoiam por conveniência, mas o cenário atual pode levá-las a reconsiderar essa posição. Além disso, a oposição, liderada por Maria Corina Machado, começa a articular uma possível transição de poder, incluindo concessões a Maduro e a seus aliados.
A pressão internacional também aumenta. A ONU, geralmente lenta em suas respostas, já emitiu uma nota pedindo o fim das perseguições políticas na Venezuela. Os Estados Unidos, por sua vez, sinalizam a possibilidade de suspender processos criminais contra Maduro, que enfrenta acusações graves relacionadas ao tráfico de drogas e armas. Há inclusive o oferecimento pelos EUA de uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levem à prisão do ditador. Isso cairia se ele obedecesse as urnas e saísse do poder.
Diante de tudo isso, é possível afirmar que há uma esperança de mudança na Venezuela. O processo é lento e complexo, mas diferente de anos anteriores, quando a perspectiva de uma transição pacífica de poder parecia inexistente, agora há sinais concretos de que algo pode mudar. A comunidade internacional está atenta, e as negociações em curso indicam que, finalmente, o regime de Maduro pode estar começando a ruir.