UE e Otan são um sonho distante para a Ucrânia
Volodymyr Zelensky arrancou uma longa e emocionante salva de palmas ontem, no Parlamento Europeu, ao relatar o martírio de seu povo diante do cerco russo e apelar pelo ingresso imediato da Ucrânia na União Europeia. Apesar da coesão internacional criada pela guerra, o desejo do presidente ucraniano dificilmente será realizado. Da mesma forma, parece distante […]
Volodymyr Zelensky arrancou uma longa e emocionante salva de palmas ontem, no Parlamento Europeu, ao relatar o martírio de seu povo diante do cerco russo e apelar pelo ingresso imediato da Ucrânia na União Europeia. Apesar da coesão internacional criada pela guerra, o desejo do presidente ucraniano dificilmente será realizado.
Da mesma forma, parece distante a possibilidade de que a Ucrânia venha a integrar a Otan — assunto nevrálgico para Moscou e uma das justificativas usadas por Vladimir Putin para atacar o vizinho.
Como me disse o ex-embaixador do Brasil na Ucrânia Renato Marques no Papo Antagonista, os anseios ucranianos são legítimos e o país governado por Zelensky tem “real vocação europeia”. Mas o ingresso de qualquer novo estado no bloco europeu é um longo processo, que envolve o cumprimento de uma série de requisitos — que provavelmente não serão atendidos.
Nada acontecerá imediatamente, diga-se. A adesão mais rápida da história da UE foi alcançada pela Finlândia e levou 2 anos e 9 meses, conforme levantamento do cientista político alemão Oliver Schwarz.
Além disso, os requisitos para ingresso incluem profundas reformas econômicas e políticas, uma democracia estável e uma economia de mercado funcional e complementar dentro da comunidade, o que não está posto. Acrescenta-se ao cenário toda a tensão geopolítica com a Rússia. Como ressalta o ex-embaixador, a Europa mantém grande dependência do gás russo e, “enquanto o Kremlin desaconselhar esse ingresso, a grande possibilidade é a de que ele não vai ocorrer”. Uma perspectiva que fica ainda mais distante com o país conflagrado.
No caso da Otan, as chances são ainda menores. Um dos principais obstáculos é a existência, em território ucraniano, da base militar russa de Sabastopol. Segundo Renato Marques, que também serviu em Belarus, a aliança atlântica não permite a entrada de um país que possui instalação militar de terceiro que não integre o próprio bloco. Outro impedimento, diz, é a situação de permanente beligerância nas províncias rebeldes do Donbas. “Difícil supor que a Otan venha a acatar o pedido ucraniano, enquanto subsistirem essas questões. A perspectiva, na verdade, é de que essas questões sejam acentuadas com a guerra atual.”
Antes de tentar realizar o distante sonho ucraniano, Zelensky precisa tentar tirar o país do atual pesadelo. Toda ajuda internacional é necessária e urgente.
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