Três em cada quatro brasileiros praticam autocensura. Você é um deles?
Você já deve ter ouvido por aí gente com medo de cancelamento ou dizendo que “ninguém pode falar mais nada”. Como eu fundei o Instituto Direito de Fala, que se dedica à liberdade de expressão, resolvi quantificar...
Você já deve ter ouvido por aí gente com medo de cancelamento ou dizendo que “ninguém pode falar mais nada”. Como eu fundei o Instituto Direito de Fala, que se dedica à liberdade de expressão, resolvi quantificar. Trago a vocês, de O Antagonista, os resultados em primeiríssima mão.
O levantamento foi feito pela Esentia Inteligência em torno da verificação da existência, quantificação e qualificação de três sentimentos:
– “Eu não posso falar mais nada”
– “Tenho medo de cancelamento”
– “Medo de ser corrigido em público”
Entre os dias 27 e 30 do último mês de outubro, foram ouvidas 758 pessoas, por meio de questionário estruturado on-line. Vamos aos resultados:
Pessoas constrangidas ou com medo de expressar seus sentimentos, pensamentos e opiniões:
78% nos ambientes físicos, como trabalho, reuniões com amigos e/ou familliares e conversas presenciais informais
86% nos ambientes digitais, quando usando sua identidade real
Dentro desse grupo que se diz constrangido ou com medo, foram avaliados outros pontos:
39% sentem medo de serem corrigidas
67% sentem medo de serem canceladas ou perseguidas
89% sentem medo de serem expostas e/ou prejudicadas
Agora vamos ao dado que, para mim, é o mais preocupante: 74% dos entrevistados afirmaram que, mesmo tendo uma opinião e desejando se expressar, optam pelo silêncio em função dos sentimentos de constrangimento e/ou medo de serem expostas/prejudicadas ou canceladas/perseguidas.
Ou seja, três a cada quatro brasileiros já abriram mão da liberdade de expressão, que é a mãe de todas as outras liberdades. Não há liberdade que você possa reivindicar ou manter sem se expressar nesse sentido. Exatamente por isso, a pancada do Estado sempre vai primeiro aí.
A pesquisa traz ainda dois outros dados muito interessantes:
67% das pessoas dizem que preferem se calar para serem aceitas ou não serem segregadas de um grupo social.
89% das pessoas preferem se calar para não serem prejudicadas no seu trabalho.
Chegamos num ponto em que não sabemos mais o que pessoas comuns realmente pensam porque elas resolveram se calar. “Os resultados são preocupantes porque, ao mesmo tempo em que as pessoas não se sentem à vontade para se expressar livremente, o contexto em que vivemos empobrece o debate social e, ainda pior, faz com que haja uma compressão errada do que realmente as pessoas pensam e sentem, levando a um diagnóstico impreciso da opinião pública por parte da imprensa, empresas e administradores públicos”, diz Gustavo Ramos, diretor-executivo da Esentia Inteligência.
Estamos diante de um cenário de completa incerteza e julgando que temos certeza. Imagine um grupo de 100 pessoas no WhatsApp. Seguindo o padrão, 75 dessas pessoas não falam o que pensam, simplesmente calam para continuar parte do grupo. Ou seja, elas fingem ser quem não são para participar de grupos.
A temperatura das redes sociais, considerada tão importante pela imprensa, mundo político e empresas, afere apenas a minoria da população. A maioria já desistiu de se expressar.
O primeiro passo é tomar consciência de onde nos metemos. As perseguições são muito visíveis quando atingem quem tem vida pública, mas essas pessoas têm a condição de, bem ou mal, pelo menos tentar uma volta por cima.
Com as pessoas comuns, os relatos são de total desesperança. Por qualquer bobagem, podem ser prejudicadas profissionalmente, tenham errado ou não. Basta algum desafeto distorcer algo para que a pessoa pague o preço e não consiga repor a verdade.
Seria absurdo pedir heroísmo dessas pessoas, mas já chegamos ao ponto em que é preciso arriscar alguma coisa, sob pena de perder todas as liberdades. Esse é um movimento que exige união. Resta saber quantos de nós ainda se deixarão doutrinar por líderes messiânicos e grupos violentos e quantos terão senso de sobrevivência.
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