Políticos sequestraram definitivamente o 7 de Setembro
Lula prometeu um 7 de setembro dedicado ao Brasil, o avesso do que fez o imbrochável Jair Bolsonaro. Não entregou e poderia ter feito porque sabe como fazer. Resolveu levar a tiracolo uma Janja vestida de...
Lula prometeu um 7 de setembro dedicado ao Brasil, o avesso do que fez o imbrochável Jair Bolsonaro. Não entregou e poderia ter feito porque sabe como fazer. Resolveu levar a tiracolo uma Janja vestida de vermelho e fazendo o L no carro oficial, como se fosse um ato de campanha.
A escolha está feita. Difícil saber como voltaremos a pensar o Brasil e as questões cívicas diante de tanto populismo.
Não seria justo dizer que Bolsonaro e Lula inauguraram essa era em que a independência do país deixa de ser uma festa do povo. Durante a ditadura militar, todos os símbolos nacionais foram cooptados e isso nos trouxe até onde estamos.
A tal história do “Brasil, ame-o ou deixe-o” era muito simbólica. Amar o Brasil era uma expressão usada para outra coisa, o ato de ser apoiador ou capacho da ditadura. Esse espírito foi transferido para todos os outros símbolos nacionais.
Cantar o hino nacional, por exemplo, passava a ser algo automaticamente identificado como coisa de milico, ligada à ditadura. Na abertura democrática, os símbolos pátrios passaram a ser vistos com muito ranço pela nossa elite cultural. Foi um erro monumental.
Temos dificuldades enormes em nos sentir como Brasil. Eliminar os símbolos pátrios da equação dificulta ainda mais. E houve um efeito colateral importante, o surgimento de um político que avocou a noção de patriotismo para si.
Novamente, as palavras e símbolos são ressignificados. O que os tais patriotas bolsonaristas consideram patriotismo é um arremedo infantilizado. Usam os símbolos sem respeito ou sequer saber o que representam. Além disso, dão a eles o significado de aprovação ao seu político de preferência.
Patriotismo e símbolos pátrios viraram, na cabeça de muitos, sinônimo de bolsonarismo. O 7 de Setembro não foi uma cerimônia patriótica no governo dele, foi uma cerimônia político-eleitoral. Muito embora os seguidores se descrevam como patriotas e se sintam assim, a realidade se impõe. Não é exatamente uma homenagem ao país fazer um coro de “imbrochável” para um presidente.
Lula poderia ter feito o 7 de Setembro à imagem e semelhança dos outros oito que fez durante seus dois primeiros governos. Nos governos dele, de FHC, Dilma e Temer, foram cerimônias militares em que o tema era o Brasil, não uma preferência política.
A opção, no entanto, foi por ser o antagonista de Bolsonaro. Sem povo, levou a tiracolo uma Janja vestida de vermelho e fazendo o L, em postura de cabo eleitoral. Fosse o 7 de Setembro da paz prometido pelo presidente, ela estaria de branco e se comportando como primeira-dama.
Depois, a cereja do bolo. O vídeo de Lula comendo jabuticaba postado com a provocação patética “quem planta colhe”, coisa de nível Choquei. Pior, ainda separaram o sujeito do predicado com vírgula. A postagem original é “quem planta, colhe”.
O Lula modo vingança está realmente diferente. Chancelou o sequestro das festas nacionais para a política. Fez isso descendo o nível do debate e das provocações para as picuinhas. Nem os piores inimigos de Lula o imaginariam na presidência se comportando igual a subcelebridade no Twitter.
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