Pedro Simon: "É preciso despersonificar o legado da Lava Jato" Pedro Simon: "É preciso despersonificar o legado da Lava Jato"
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Pedro Simon: “É preciso despersonificar o legado da Lava Jato”

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4 minutos de leitura 18.03.2024 11:34 comentários
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Pedro Simon: “É preciso despersonificar o legado da Lava Jato”

O marco de 10 anos da maior operação anticorrupção da história brasileira ocorre em meio a retrocessos e ao revisionismo histórico

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Pedro Simon: “É preciso despersonificar o legado da Lava Jato”
Foto: Joel Vargas

O gaúcho Pedro Simon foi governador do Rio Grande do Sul e senador pelo seu estado por três décadas. Aos 94 anos, continua atento à política e segue filiado ao MDB. Neste artigo, reflete sobre a história do combate à corrupção no Brasil e sobre o legado da Operação Lava Jato, que completa 10 anos.

*****

O marco de 10 anos da maior operação anticorrupção da história brasileira, infelizmente, é rememorado em meio a sucessivos retrocessos e ao revisionismo da história recente da política brasileira. Os ataques à Operação Lava Jato alcançaram um patamar político no qual as infrações apuradas ao longo da última década, bem como os prejuízos ao erário e à credibilidade das instituições nacionais causados pela corrupção sistêmica, parecem ter sido subitamente esquecidos.

Faz-se necessário, assim, recuperar rapidamente o seu legado: a Operação Lava Jato resultou em aproximadamente 300 condenações (de corruptos e corruptores), com penas somadas em aproximadamente 3.000 anos e um valor aproximado de R$ 14,7 bilhões recuperado aos cofres públicos, segundo dados do Ministério Público Federal (MPF).

Mais do que isso, ela foi decisiva para romper um padrão que eu, na minha trajetória de mais de 60 anos de vida pública, lutei para quebrar: a vergonhosa tradição brasileira de que criminosos de colarinho branco do mais alto escalão, tanto do meio político quanto corporativo, não iriam parar na cadeia. 

Combate à corrupção

Como senador, participei ativamente dos processos que levaram à instauração da CPMI dos Correios e à apuração das denúncias de recebimento de vantagens ilícitas e compra de votos que resultaram no escândalo do mensalão.

Foi também por meio do senado que eu trouxe ao Brasil, ao final da década de 1990, os procuradores italianos que atuaram na Operação Mãos Limpas, qualificando assim uma geração de jovens procuradores brasileiros engajados no combate contra a corrupção. Todas essas iniciativas pavimentaram o caminho para que a Lava Jato nascesse e prosperasse como um dos maiores esforços anticorrupção do mundo.

O mesmo Senado Federal, contudo, hoje assiste omisso às reviravoltas que colocam em xeque um esforço de décadas de responsabilização e moralização da política brasileira – uma agenda perante a qual tanto o governo em exercício quanto o que o precedeu há muito perderam credibilidade. É por isso que faço um apelo aos meus colegas senadores: não deixem que esta boa luta desmorone.

País da impunidade

Não há dúvidas que a Lava Jato marcou a história recente do Brasil, porém os desdobramentos da agenda contra a corrupção no país mostram-se cada vez mais preocupantes e podem impactar diretamente nos investimentos e na reputação do nosso país.

Basta lembrar, por exemplo, que o Brasil busca adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e o crescente índice de impunidade em casos de corrupção identificado pela organização representa um óbice para este pleito.

Os atos unilaterais de anular as conquistas da Lava Jato fazem parte de uma cruzada contra alguns dos seus integrantes que hoje ocupam cargos políticos. Por isso faz-se tão necessário despersonificar o seu legado, que é em verdade um grande empreendimento de centenas de agentes públicos comprometidos e instituições nacionais, que hoje assistem impotentes ao desmonte de anos de esforço e dedicação.

Apesar das suas vicissitudes, que certamente existiram, cabe a nós brasileiros valorizarmos o que ela trouxe de positivo para que não sejamos lembrados eternamente como o país da impunidade.

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