Os nazifascistas estão chegando
Os nazifascistas estão chegando, estão chegando os nazifascistas (que o resto da música fique tocando na cabeça de todo mundo que realmente acredita que os nazifascistas estão chegando). O ministro da Justiça...
Os nazifascistas estão chegando, estão chegando os nazifascistas (que o resto da música fique tocando na cabeça de todo mundo que realmente acredita que os nazifascistas estão chegando). O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que endurecer as punições contra quem ameaçar o Estado Democrático de Direito, elevando para 40 anos a pena de prisão, se justifica pelo “perigosíssimo nazifascismo do século 21”. É uma retórica pobre e… perigosíssima.
“Quem minimizou os riscos antidemocráticos, há 100 anos atrás na Alemanha ou na Itália, alimentou um monstro. Busco não pecar por omissão. Assim se constrói a verdadeira PAZ, aquela que nasce do RESPEITO À CONSTITUIÇÃO”, justificou-se o ministro no Twitter. Ele ainda colocou no mesmo saco a invasão do Supremo Tribunal Federal (STF) e os recentes ataques a escolas. Ainda que as preocupações de Dino sejam compreensíveis, a linha entre pecar por omissão ou por excesso é muito tênue, ainda mais nesse contexto de autoritarismo.
A política do século 21 se move por meio de fantasmas, como sempre se moveu, mas anabolizada pela participação de milhões de pessoas, por meio de seus micro impérios virtuais de mídia. Um tuiteiro alimenta o outro e a bola de neve sai esmagando qualquer possibilidade de sensatez pelo caminho. Políticas e políticos não precisam ser o pior possível e imaginável para serem ruins. Um presidente não precisa ser comunista ou fascista para ser temido, confrontando e punido. O uso recorrente desses exageros retóricos esvazia os termos de força e sentido.
O nazismo e o fascismo tinham características bem particulares em suas épocas de relevância e seus ecos sobrevivem hoje à margem, em guetos, numa poética justiça histórica. Com o comunismo e o socialismo a história é um pouco diferente. De alguma forma, apesar das tragédias que patrocinaram, sobreviveram para seguir nomeando partidos e servir de símbolo para uma virtude quixotesca, adolescente — Dino, por exemplo, trocou recentemente o PCdoB pelo PSB, comunismo por socialismo. Nem a China, contudo, pode ser mais classificada como comunista.
O conceito de fascismo foi expandido para abarcar a defesa da estrutura familiar e da pátria. Já o nazismo serve para criticar, por exemplo, aqueles que se opõem a políticas de cunho racial — outra ironia conceitual. De modo ainda mais geral, os dois termos são usados para criticar pretensões autoritárias à direita. A alusão às atrocidades históricas de Hitler e Mussolini assusta e desperta, mas também infantiliza e, no caso da política proposta pelo governo Lula e defendida por seu ministro da Justiça, significaria um retrocesso em mudança recente, que tirou um dedinho das autoridades do país do pedestal.
Esses termos sobrevivem, hoje, ao lado do anedótico “neoliberalismo”, enquanto palavras de ordem, espantalhos que simplificam a realidade para fazer política. Faz parte do jogo. O ministro da Justiça não está errado ao fazê-lo — da mesma forma que os direitistas não erram ao empunhar o fantasma do comunismo. Vale tudo na política, inclusive posar de vingador contra a ameaça fascista. O errado é você, por acreditar no que eles dizem.
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