Orlando Tosetto na Crusoé: Pelo retorno do telecatch eleitoral
Vou parecer saudosista, mas tenho que dizer: hoje é tudo diferente e muito pior – com os debates ao menos. Por isso ninguém mais os vê
Eu sou mais distraído do que professor de filme antigo. Sou como aqueles professores que andavam pisando nas poças de chuva e esquecendo a caneta sem tampa em cima da mesa, tipo o Cary Grant em “Levada da breca”, o amigo se lembra? Um daqueles professores que andavam com o laço frouxo da gravata, a camisa do avesso, óculos tortos e uma meia de cada cor, e por quem, mesmo assim, a jovem e bela heroína se apaixonava. Sim, sou eu mesmo. Com a vantagem de que não dou aulas a ninguém, e com as desvantagens de que nunca nenhuma heroína jovem e bela se apaixonou por mim, e nunca fui parecido com o Cary Grant. Mas calma, o meu assunto é outro: é que, por causa dessa minha capacidade tão acadêmica de distração, demorei a perceber que estava aberta a temporada de debates políticos na TV e – vejam o que é a tecnologia! – nos sites de internet também.
E pensar que houve tempo em que eu acompanhava os debates políticos com a maior das atenções. Lembro que, nos tempos vizinhos da redemocratização e logo depois dela – digamos, a partir da campanha para governador de 1982 (pois é, amigo, eu sou velho assim) – os debates entre candidatos voltaram, não sei se à moda ou se a ser permitidos, e se transformaram num sucesso imenso de público. Todo o mundo os assistia e comentava, inclusive adolescentes como eu, que andava pelos meus 15 anos. A curiosidade para saber o que diriam os candidatos, fosse uns aos outros, fosse a nós outros que assistíamos, era enorme. Daí que acompanhávamos tudo. E o fato é que nos divertíamos para valer.
Os candidatos ajudavam. Lá estava, por exemplo, o Jânio Quadros dizendo, pausado e didático, que não era selenita: como não rir?
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