Orlando Tosetto na Crusoé: Esfriai vossos pandeiros
No começo dos anos 90, parecia que a esquerda tinha sido derrotada de vez
O amigo, se for jovem, talvez não saiba; se for velho, talvez não lembre mais. Em todo caso, eu conto e relembro: no começo dos anos 90, parecia que a esquerda tinha sido derrotada de vez.
O Brasil elegeu FHC; a Argentina elegeu o homem das costeletas, Carlos Menem; o muro de Berlim tinha sido picaretado e os países da velha Cortina de Ferro estavam ganhando melhor, comendo e bebendo melhor, lendo, falando e ouvindo o que queriam, e correndo para se recuperar de setenta anos de decrepitude e silêncio forçado; e um certo Francis Fukuyama ganhou nomeada falando no “fim da história”.
Era uma festa, era uma farra e um forró que tanta gente, subitamente livre, fazia em cima dos grilhões perdidos.
Mas durou pouco: já no fim da década a esquerda estava de volta com tudo. Tiremos por aqui, pelo nosso quintalzinho malcuidado da América Latina.
Hugo Chávez subiu ao poder em 1999 e só saiu morto, em 2013, quando ascendeu esse stupor mundi que é o Maduro – ascendeu e não descendeu mais. Em 2002 o Brasil entrou num ciclo de gestões (não ria, estou falando sério) petistas, ciclo rude e efemeramente interrompido em 2018, mas já devidamente retomado, e com todos os responsáveis pela interrupção postos nos seus devidos lugares – o silêncio, a inelegibilidade e/ou a cadeia.
Entre 2006 e 2019, a Bolívia foi açoitada por Evo Morales. A Argentina gramou sob os K e seu apaniguado Alberto Fernández de 2003 até 2023, com um curto e ineficiente intervalo do Macri. O Equador gemeu dez anos sob Rafael Correa, 2007 a 2017. E paro por aqui para não acabar indo parar no México.
Aliás, percebeu o amigo que os caras ficam sempre um tempão no poder? Completado seu terceiro termo, nosso sacrossantíssimo e impoluto líder máximo terá cavalgado a nação por doze anos, dezesseis se agregar um nada impossível quarto mandato. Somados a esses os seis anos e meio da estocadora de vento, vai dar quase vinte e três anos, mais do que a maioria dos reinados e quase uma geração. Peculiaridades da Democracia em mãos sinistras, digo, canhotas.
Portanto, amigo, segure a onda da sua euforia com a catástrofe que foi para a esquerda brasileira…
Siga a leitura em Crusoé. Assine e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)