O triunfo da ignorância
Jair Bolsonaro recusou-se a receber um livro de uma apoiador, dizendo o seguinte: "Desculpa, eu não tenho tempo de ler. Tem três anos que eu não leio um livro". Apesar disso, criticou Sergio Moro por ele supostamente não ler: "Eu vi aí um vídeo agora daquele ministro. Ele falando que estava lendo biografias. O cara perguntou: ‘Qual foi a última?’. Ele ficou: ‘Hum…’ Alguém viu esse vídeo aí? Não lembrava, nem a dele". O vídeo é o de uma entrevista de Sergio Moro a Pedro Bial, em 2019...
Jair Bolsonaro recusou-se a receber um livro de uma apoiador, dizendo o seguinte: “Desculpa, eu não tenho tempo de ler. Tem três anos que eu não leio um livro”. Apesar disso, criticou Sergio Moro por ele supostamente não ler: “Eu vi aí um vídeo agora daquele ministro. Ele falando que estava lendo biografias. O cara perguntou: ‘Qual foi a última?’. Ele ficou: ‘Hum…’ Alguém viu esse vídeo aí? Não lembrava, nem a dele”. O vídeo é o de uma entrevista de Sergio Moro a Pedro Bial, em 2019.
Não sei se Sergio Moro é leitor habitual de livros. Imagino apenas que leia — e tenha lido — muito mais do que Jair Bolsonaro. Até o meu cãozinho Napoléon tem mais leitura do que o presidente da República. Em relação a Lula, a máquina de propaganda petista alardeou que ele leu bastante durante a prisão. Pois é, se tivesse ficado preso por mais tempo, seria menos ignorante. Uma pena que tenha deixado escapar a oportunidade de cultivar ainda mais o seu amor pelos livros. Deve agora ter o mesmo nível de leitura de Napoléon.
Quando era presidente, em 2004, na abertura da Bienal do Livro de São Paulo, Lula disse que “ler é como ter uma esteira (ergométrica) no quarto. No começo, a gente tem preguiça de andar, mas depois que começa toma gosto pelo exercício e não quer parar mais”. É uma comparação digna de um Flaubert. O que é sabido é que, no Palácio do Planalto, ele andava muito pouco nessa esteira ergométrica. Só lia os resumos de até 20 linhas dos documentos que tinha de assinar, preparados por seus assessores.
Em 2018, antes da eleição presidencial, escrevi na Crusoé que “minha primeira régua como eleitor é bastante simples: não voto em quem fala errado e não lê livros. Os livros que julgo certos, bem entendido, o que não significa que você tenha de concordar com eles”. Decerto, ler não faz ninguém necessariamente melhor. Mas, como também escrevi, não ler torna alguém pior, “no mínimo, porque demonstra falta de capacidade de concentração”.
Jair Bolsonaro é um energúmeno, mas não se pode esquecer que — vou repetir o que publiquei há três anos — “uma das razões de Lula ter sido elevado ao panteão da esquerda foi a sua falta de cultura, que expressaria a concreta sabedoria proletária, contra a alienação encobridora do capitalismo. Bolsonaro subiu ao altar da direita brasileira também por causa do seu anti-intelectualismo de militar adestrado nas regras imutáveis da balística — um tiro de canhão nos relativismos morais típicos do pensamento esquerdista. Lula e Bolsonaro são, assim, igualmente louvados pela sua ignorância“. A ignorância virou um trunfo no Brasil, uma país que se faz mal e porcamente com homens sem livros.
Diante da nossa tragédia cultural, o que resta é rir da piada que um dos meus irmãos faz quando ganha um livro de presente: “Obrigado, mas não preciso: eu já tenho um livro”.
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