O tiro que causou um lampejo de esperança
O empresário Nilton Costa Lins Júnior me fez ter um lampejo de esperança, ao receber a PF à bala na sua casa em Manaus, quando os policiais bateram à porta para prendê-lo e cumprir um mandado de busca e apreensão. Vou explicar mais adiante. Nada dessa história de evocar logo de cara o Estado de Direito, para dizer que a decretação da prisão temporária foi uma arbitrariedade, um atentado aos direitos fundamentais e essa discurseira toda. Depois de dar um tiro, ele se rendeu à cana, acusado de fraudes e superfaturamento na instalação de um hospital de campanha no Amazonas...
O empresário Nilton Costa Lins Júnior me fez ter um lampejo de esperança, ao receber a PF à bala na sua casa em Manaus, quando os policiais bateram à porta para prendê-lo e cumprir um mandado de busca e apreensão. Vou explicar mais adiante. Nada dessa história de evocar logo de cara o Estado de Direito, para dizer que a decretação da prisão temporária foi uma arbitrariedade, um atentado aos direitos fundamentais e essa discurseira toda. Depois de dar um tiro, ele se rendeu à cana, acusado de fraudes e superfaturamento na instalação de um hospital de campanha no Amazonas, no âmbito da operação que também envolve o governador do estado, Wilson Lima, e o seu secretário de Saúde, Marcellus Campelo, que também teve prisão ordenada pela Justiça.
Para justificar o ímpeto de Nilson Costa Lins Júnior, o advogado dele diz que o cliente atirou porque pensou que a sua casa estivesse sendo assaltada, como ocorreu em outubro do ano passado. E que os tiros foram de advertência, não foi na direção dos policiais. Compreende-se o esforço do causídico, está no seu papel, e ele até pode vir a convencer um juiz bondoso com a sua tese sujeita a averiguação.
Não estou defendendo que se atire contra policiais, não é nada disso. Só quero dizer que o episódio me fez ter um lampejo de esperança, e talvez a você também, de que tudo estivesse finalmente no seu devido lugar. Ou seja, de que “bandido é bandido, polícia é polícia, como a água e o azeite, não se misturam”. A frase é de Lúcio Flávio Villar Lírio (foto), um dos mais famosos criminosos brasileiros da década de 1970, daqueles que assaltavam bancos, não criavam um. Lúcio Flávio proferiu a máxima para criticar os policiais que se associavam ao crime organizado. Ou seja, eram bandidos como ele próprio, apesar de pertencerem a uma corporação policial. O moço de inteligência bem acima da média ajudou a desbaratar o Esquadrão da Morte no Rio, antecessor das milícias, e foi morto na prisão por saber demais.
Deixe-se Lúcio Flávio repousar em paz, se é que ele a encontrou. Só o ressuscitei porque hoje de manhã as devidas fronteiras pareceram por breve momento estabelecidas num sentido mais amplo, com bandido sendo bandido, polícia sendo polícia e político sendo político. Mas foi só um lampejo de esperança, como eu disse.
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