O passo atrás de Tarcísio é bem-vindo
O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas deu um passo atrás na tarde desta terça-feira, 1º de agosto, em seu discurso sobre a ação policial de combate ao tráfico de drogas no litoral de São Paulo, especialmente na cidade do Guarujá (foto)...
O governador de São Paulo Tarcísio de Freitas deu um passo atrás na tarde desta terça-feira, 1º de agosto, em seu discurso sobre a ação policial de combate ao tráfico de drogas no litoral de São Paulo, especialmente na cidade do Guarujá (foto).
Na segunda-feira, um dia depois do início da operação, ele havia dito peremptoriamente que “não houve excesso” no trabalho dos policiais, que havia resultado em 10 mortes até aquele momento. No novo balanço, ele amenizou essa certeza: “Se houver desvio de conduta, ele será punido”, disse. O número oficial de agora é de 14 mortos.
Tarcísio fez bem em adotar essa cautela. O governador pode expressar confiança no profissionalismo das suas forças de segurança – como fez, aliás. Não cabe a ele saltar à frente das conclusões que só uma análise independente dos fatos, feita pela Corregedoria da PM, pode alcançar.
A guerra contra o crime sempre será injusta e desigual. A razão disso é que o trabalho policial, por definição, está limitado por regras, enquanto os bandidos não respeitam nada. Se é possível falar de heroísmo de quem se põe na linha de frente do combate ao crime, o motivo é exatamente esse: ao contrário dos bandidos, o policial não pode “meter o louco”. Ele está comprometido com o bom combate – o que inclui aceitar serenamente que haja controle das suas ações.
Isso é algo que a tribo da bala, uma das facções mais ruidosas do bolsonarismo, não consegue entender. Políticos que querem tirar as câmeras das fardas dos policiais ou aprovar um “excludente de ilicitude” para policiais, perdoando previamente erros ou abusos cometidos em uma missão, ignoram que é o respeito às regras que faz o policial; o mero ingresso na tropa não garante ao fardado a marca do “homem de bem”.
A tribo da bala também não entende que atribuir esse ônus aos policiais não significa tomar partido dos bandidos. Tarcísio acertou ao dizer que o crime organizado precisa ser combatido com dureza no litoral de São Paulo. Não dá mais para aceitar que o tráfico seja dono de regiões inteiras da Baixada Santista. Trata-se de uma guerra e, como disse, o governador, “não existe combate ao crime sem efeito colateral” – sem mortes, para deixar de lado o eufemismo neste caso específico.
Reconhecer que até nas guerras mais ferozes algumas coisas devem ser proibidas foi uma conquista da civilização. Quem quer que ocupe um cargo como o de Tarcísio de Freitas – que é militar, por sinal, e sabe bem o que significam as “regras de engajamento” – precisa estar do lado da civilização, e não do vale-tudo. É bom que ele mantenha a linha comedida que adotou nesta terça e não ceda à gritaria dos bolsonaristas.
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