O país da intransparência
O UOL pediu à Caixa documentos sobre o processo de liberação dos empréstimos consignados do Auxílio Brasil, que aconteceu entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2022...
O UOL pediu à Caixa documentos sobre o processo de liberação dos empréstimos consignados do Auxílio Brasil, que aconteceu entre o primeiro e o segundo turnos das eleições de 2022. Recebeu, depois de pedidos insistentes e uma ordem da Controladoria Geral da União, 17 páginas quase que inteiramente tarjadas de preto, que não ofereciam nenhuma informação compreensível.
A repórter Amanda Rossi insistiu no seu trabalho e, por outros meios, obteve os mesmos documentos sem as tarjas. Descobriu que o banco havia identificado ao menos oito riscos financeiros e jurídicos no programa (ao qual nenhuma outra instituição financeira aderiu) e que o governo reconheceu tê-lo instituído às pressas, “sem discussão prévia”, e numa portaria “propositalmente vaga”.
Como já era sabido, 99% das liberações de empréstimos pela Caixa aconteceram antes do segundo turno. Em novembro, as concessões cessaram de todo – não sem legar prejuízos ao banco.
A conclusão da reportagem é correta: os documentos são indícios poderosos do uso político do banco público por Jair Bolsonaro, para tentar vencer as eleições.
As tarjas, por sua vez, mostram como se zomba do princípio constitucional da transparência no Brasil. Mesmo depois de uma ordem direta da CGU, diretores do banco acreditaram que poderiam se safar entregando a papelada tingida de preto. Não é muito diferente dos artifícios a que o Congresso recorreu no ano passado, para tentar manter secretos os dados do orçamento secreto. Haja cara-de-pau.
Ninguém do governo reagiu até agora a essa história. Seria de se esperar que ministros de Lula exibissem alguma indignação ou achasse alguma graça em divulgar novos sinais de que Jair Bolsonaro mobilizou a máquina pública em proveito próprio. Mas nada. Talvez porque a aversão à transparência seja um traço comum dos políticos e funcionários da alta administração federal. Mais cedo ou mais tarde, todo governo se vê diante da tentação de esconder alguns de seus rastros.
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